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domingo, 17 de outubro de 2021


 

Tibo e a Lagoa dos Antigos

 

Tibo é uma aldeia escondida na Serra do Soajo a poucos quilómetros da vila  com o mesmo nome, fazendo parte do Parque Nacional da Peneda Gerês. O caminho de acesso a Tibo que tem início na estrada M530 que sobe a serra e de onde se vislumbra uma magnífica paisagem de encantar a vista, termina na própria vila.

 

A aldeia de Tibo não oferece nada de especial ao caminhante que procura encontrar os encantos escondidos do Parque Nacional da Peneda Gerês. Nada há para ver de interessante na aldeia, apenas uma pequena igreja se destaca no largo principal. No entanto, Tibo guarda uma pérola bem escondida e de acesso difícil: A Lagoa dos Antigos actualmente baptizada de Lagoa dos Druidas.


  Lagoa dos Antigos ou Lagoa dos Druidas


O trilho que dá acesso à lagoa e que segue no sentido da Mistura das Águas, já muito perto de Espanha, começa muito antes de Tibo. Mas a primeira dificuldade que se apresenta ao caminhante que deseja conhecer a referida Lagoa é saber onde começa o caminho a partir de Tibo. A segunda é descer a ladeira que dá acesso a um magnífico prado verdejante, ladeado por árvores cujas copas lhe conferem um certo ar de mistério e de magia e daí encontrar a descida de acesso à Lagoa dos Antigos que também não se afigura muito fácil. A ladeira é tão longa e íngreme, cheia de pedras rolantes, que desmoraliza o mais afoito e destemido caminhante. Aqui não é verdade que “para baixo todos os santos ajudam”. Neste caso terá o afoito caminhante de meter os “travões às quatro rodas” se quiser chegar lá baixo incólume e de boa saúde!      

                                               

                                                    Caminhante contemplando a paisagem


Esta poderá ser uma etapa desmoralizante para quem quiser conhecer a Lagoa dos Antigos, no entanto há uma segunda opção que é continuar pelo trilho principal que leva à Mistura das Águas e depois encontrar um caminho do lado esquerdo que conduz a uma espécie de paraíso perdido, A Lagoa dos Antigos e seus arredores. Aqui a dificuldade está mesmo em encontrar o tal caminho. Ora esta segunda opção embora mais longínqua é belíssima. O caminhante acabará por entrar numa espécie de bosque encantado, verdejante e fechado pelas copas das árvores, onde o musgo que se estende pelos muros que se vão encontrado pelo caminho se assemelha a um manto de veludo de cor verde. O caminho de terra batida nem sempre é fácil pois por vezes encontram-se partes onde abundam as pedras que dificultam a caminhada e propiciam uma espécie de gincana às sapatilhas. O caminhante depara-se também com vários percursos de água que atravessam o caminho, deixando a terra enlameada.

 

                                     Trilho do Caminho Mistura das Águas  

Aqui o tempo parece ter parado, existindo apenas a musicalidade própria de uma natureza sublimada para além do real, que a voracidade destruidora do ser humano (ainda) não contaminou. A água que corre ligeira e atravessa o trilho dá o tom certo e o seu borbulhar imprime o ritmo à musicalidade deste pequeno paraíso. O vento que por vezes se faz sentir ora mais forte ora como pequena brisa entra nesta sinfonia no tempo e modulação adequada, fazendo com que as folhas das árvores vibrem produzindo um som que se harmoniosa tanto com a paisagem como com o conjunto musical produzido pelos vários sons da natureza, incluindo os chilreios dos pássaros, com os seus afinadíssimos trinados, magníficos e inigualáveis sopranos que a voz humana não consegue igualar (contudo haverá raras excepções!). Mas esta musicalidade harmoniosa própria da natureza e que aqui se faz sentir com inusual intensidade e dinâmica, nem sempre é perceptível ao ouvido humano, destreinado e habituado a outras musicalidades, tomando esta harmonia natural como simples ruídos da natureza.  Mas aqui a música é outra e produzida por uma orquestra que se veste de cores variadas, ao contrário das orquestras sinfónicas humanas que preferem apresentar-se ao público vestidos de preto, ausência de luz. Será um luto inconscientemente assumido pela perda de conexão com a harmonia divina? (ver artigo anterior)


                                                        Natureza Sublimada

                                   Texto original de Pimenta

                                   Fotografias de Manuela Ferreira

Para ver o artigo anterior composto por três partes clic no link:

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 

 

Será o Universo uma “Sinfonia Musical”?

3ª e Última Parte

Caso não tenha lido a segunda e /ou a primeira parte deste artigo, clique no link:

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1.    Da música Barroca à música contemporânea 

 

A música Barroca também ela é marcada pelo tema da música das esferas nomeadamente em Bach cujas últimas obras são caracterizadas por uma “pureza matemática e musical” sendo disso exemplo as “Variações de Goldeberg” e o “Cravo bem Temperado”.

 

                     

A música erudita desde o Renascimento, passando pelo Barroco e o Classicismo é dominada pela procura da Harmonia Universal, a justa medida, ainda que adquirindo as diversas formas de acordo com os compositores e respectivas épocas nas quais viveram. O compositor não era a personagem principal do acto criativo mas uma peça secundária, um elo que propiciava esse contacto do ouvinte com a harmonia Cósmica, ou divina, através da música, dependendo a sua sobrevivência enquanto músico de um mecenas. O romantismo irá ser a excepção a esta regra, pois a tónica irá ser dada às emoções que a música desperta no ouvinte, como a tristeza, a melancolia ou a alegria exaltada e o compositor passa a ser uma figura em destaque, como por exemplo o narcisista Wagner, ou o excepcional violinista Paganini. Tendo em conta as devidas excepções, a ligação com a harmonia Cósmica divina ter-se-á quebrado, ressurgindo novamente com outras roupagens na música atonal do compositor Shoenberg. 

 

 

A Física Quântica e a teoria de cordas 

 

Há várias características comuns entre a física teórica e o pitagorismo. Na física teórica a matemática descreve as qualidades da matéria, da energia e também do espaço, ou seja, a matemática é utilizada sob um prisma predominantemente qualitativo, tal como eram os números para os pitagóricos os quais não se reduziam a elementos quantitativos, mas correspondiam a formas geométricas como já vimos anteriormente. É interessante o modo como os físicos teóricos se referem às equações matemáticas que os próprios produzem, designando de ”elegantes” as que  possuem uma simetria (quando a equação permanece sempre igual mesmo que os seus componentes sejam reorganizados ou baralhados, in Michio Kaku, A equação divina, Bertrand Editora, Lisboa 2021, pág. 42) e de uma forma simples conseguem traduzir os conceitos da física, como por exemplo a célebre equação atribuída a Einstein E=mc2 que de uma forma curta introduz uma reviravolta na física clássica newtoniana, pois o espaço e o tempo deixam ser considerados absolutos passando a ser relativos. Outro aspecto muito interessante é que a teoria de cordas da física quântica e a mais recente teoria M, uma actualização da primeira, retoma de uma forma mais científica a ideia de um Universo Musical, em que os “elementos” fundamentais que existem no Universo e que estão por detrás de toda a matéria são as chamadas cordas bidimensionais cuja vibração vai originar o aparecimento das partículas que constituem a matéria. Sendo assim tudo o que dá origem à matéria e seus constituintes mais fundamentais é pura vibração e vibração é som. Se assim for é certo que o Universo vibra e como tal produz sons se bem que inaudíveis para o ouvido o humano. 


A teoria de cordas no hiperespaço


 

Mas darei a voz a quem sabe do assunto: Michio Kako é professor catedrático de física teórica da Universidade de Nova Iorque, americano de ascendência japonesa. Publicou vários livros de divulgação sobre física quântica que se caracterizam por uma clareza, tanta quanto possível neste assunto, lucidez e até sentido de humor, que torna a leitura dos seus livros verdadeiramente aliciante para o comum dos mortais que se interessam pelo tema.

 

A teoria de cordas e a teoria M baseiam-se na ideia simples e elegante de que a espantosa variedade de partículas subatómicas que constituem o Universo são semelhantes às notas que se podem tocar numa corda de violino ou numa membrana como a pele de um tambor. (Não se trata de cordas e membranas comuns; existem em hiperespaços de dez ou onze dimensões.)

 

Mas, de acordo com a teoria de cordas, se tivéssemos um supermicroscópio que nos permitisse sondar o núcleo de um electrão, veríamos que não era um partícula pontual, mas sim uma minúscula corda vibratória. Só parecia ser uma partícula pontual porque os nossos instrumentos eram demasiado rudimentares.

 

Esta minúscula corda, por sua vez, vibra com frequências e ressonâncias diferentes. Se quiséssemos tocar esta corda que vibra, mudaria de modo e transformar-se-ia noutra partícula subatómica, como um quark. Se a tocássemos de novo transformar-se-ia num neutrino. Deste modo, podemos pensar as partículas subatómicas como se fossem diferentes notas musicais da mesma corda. Podemos agora substituir as centenas de partículas subatómicas observadas no laboratório por um único objecto, a corda.

 

Neste novo vocabulário, as leis da física, cuidadosamente construída ao longo de milhares de anos de experimentação, mais não são do que leis de harmonia que se podem descrever como cordas e membranas. As leis da química são as melodias que podemos tocar nestas cordas. O Universo é uma sinfonia de cordas. E a “mente de Deus” de que Eisntein falou eloquentemente, é a música cósmica que ressoa através do hiperespaço.”  Michio Kaku, Mundos Paralelos, Editora Bizâncio, Lisboa, 2010, pág. 37

 

“A beleza da teoria de cordas está no facto de poder ser relacionada com a música. A música oferece a metáfora através da qual podemos compreender a natureza do universo, quer ao nível subatómico como cósmico.” op. cit. pág. 210 

 

Para quem se interessar pelo assunto clicar no link :

https://www.bbc.com/reel/video/p09xhj2b/string-theory-a-simple-way-to-understand-the-universe



Considerações finais

 

Parece ser evidente haver um conhecimento ancestral, que remonta a civilizações muito antigas, atirado desdenhosamente para o foro do misticismo ou da religião, quando muito da Filosofia, por carecer de evidência científica e no entanto a ciência e a física em particular começa a confirmar alguns desses conhecimentos.

 

Niels Bhor o físico dinamarquês que ganhou um prémio Nobel e um dos fundadores da física atómica, a determinada altura da sua vida dedicou-se ao estudo do taoismo atraído pela simbologia do Yin e do Yang e tudo o que isso poderia implicar para a explicação de alguns fenómenos da física. No seu brasão introduziu esse símbolo e a frase em latim, “os opostos complementam-se”. Já Werner Heisemberg interessou-se pela cultura indiana e nas suas reflexões filosóficas mostrava uma tendência para a filosofia platónica, enquanto Erwin Shrodinger dedicou-se ao estudo dos Vedas e do Budismo indiano.

 

 

Brasão de Niels Bhor

Texto original de Pimenta


Veja também o artigo anterior "Os Esquecimentos da História". Clicar em baixo:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Hist%C3%B3ria?updated-max=2021-06-28T06:03:00-07:00&max-results=20&start=2&by-date=false