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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022




 

Sabe o que é a meditação e para que serve?

 

Algumas pessoas julgam que meditar é pensar profundamente sobre algum assunto. Também poderá ser, mas o termo em geral é usado para designar uma prática usada, por exemplo, em algumas religiões como o budismo ou certas correntes da psicologia como forma de terapia no seu sentido mais amplo possível. Neste caso meditar não envolve a preocupação de pensar em algo profundamente, mas não pensar de todo, ou seja, esvaziar a mente de pensamentos, criar o vazio tornando a mente imperturbável e serena. Esta é com certeza uma tarefa difícil pois somos constantemente bombardeados por pensamentos de toda a espécie a toda a hora e a todo o momento, grande parte das vezes sem tomarmos consciência disso.

 

Convido o leitor a fazer aqui uma pausa para tentar esvaziar a sua mente por apenas um minuto, ou seja, não pensar em nada.

 

(...)

 

Difícil não é? Pois a nossa mente está num estado de burburinho constante e que não é fácil fazer calar, sendo assaltada por preocupações a todo o momento.

 

Várias são as práticas meditativas que se dedicam a fazer calar este burburinho constante criado pela nossa mente e várias são também as técnicas usadas, mas nem todas envolvem ficar sentado(a) imóvel durante longo tempo de pernas cruzadas e com as mãos sobre o regaço. Por exemplo o tai chi é uma meditação em movimento e a  prática do tiro ao arco no budismo Zen tem também a componente meditativa. Na verdade, podemos meditar enquanto executamos qualquer tarefa e até é desejável que o façamos.

 

“A meditação é simplesmente um estado natural de quietude no qual todas as coisas que normalmente são reprimidas, se veem autorizadas a vir à superfície”.

Renée Weber, Dialogue avec des scientifiques et des sages, La quête de l’unité (traduit de l’américain par Paul Couturiau), Editions du Rocher, Chapitre 3 – De la matière et de maya, pág.108 – tradução para português da versão francesa


 

Mas para quê esvaziar a mente e entrar num estado de vazio?

 

Antes de mais é necessário compreender a verdadeira natureza do nosso “eu”. 

O “eu” é uma construção (transitória) que se começa a formar desde que nascemos, sob influência do meio familiar, não esquecendo também a herança genética e posteriormente sob influência do meio sócio/cultural em que se nasce, incluindo a própria língua que falamos que é outra condicionante na forma como percebemos e encaramos a realidade.

 

Em resumo, o “eu” é construído como peças flexíveis que se interlaçam umas nas outras e vai-se modificando ao longo dos anos, mas sem perder um sentido de unidade e coerência, correspondendo cada uma dessas peças às condicionantes familiares, sócio/culturais e linguísticas como foi anteriormente referido. O que faz este “eu” um ser único é a forma como são dispostas, ou interlaçadas, todas as “peças”. Posto isto poder-se-á dizer que o “eu” é um conjunto de informações condensadas de forma única em cada indivíduo, sendo o causador do ruido constante na nossa mente, a corrente de pensamentos incessante e que temos dificuldade em controlar.

 

É neste ponto preciso que intervém a meditação através de práticas e técnicas várias. Em primeiro lugar procura esvaziar e serenar a mente despojando-a do redemoinho constante de pensamentos e preocupações que também afectam seriamente a nossa saúde, para assim poder entrar em contacto com a instância que permanece para além do “eu” transitório e a que Carl Gustav Jung deu o nome de o “em Si” (self), o mestre que nos guia, o centro da nossa psique e de onde emana todo o potencial energético de que ela dispõe. A Psicologia Transpessoal designa esta instância transpessoal (o que está para além da pessoa ou “eu”) por consciência universal, indo talvez um pouco mais longe do que Jung, entrando assim em concordância com as correntes “religiosas” do Budismo das quais recebeu influência.

 

É este esvaziar e serenar a mente o objectivo primeiro da meditação que se pode revestir de técnicas várias e é neste esvaziamento que o “em Si” se pode manifestar de forma livre e espontânea, sem os habituais constrangimentos inerentes ao “eu” apreendidos através do meio familiar e sócio/cultural.

 

Para atingir esta finalidade são usadas determinadas técnicas meditativas ou formas ritualizadas.

 

Ritual

 

Como já vimos é difícil manter a nossa mente vazia, livre de ideias e das habituais preocupações que circulam livremente sem controlo. Ora o ritual é precisamente uma das formas de manter a mente atenta, concentrada, para assim evitar a divagação com o afluxo constante de pensamentos produzidos pelo “eu” transitório.

 

Parece que os orientais perceberam isto melhor do que nós ocidentais que vemos em determinadas formas ritualizadas algo chato e enfadonho (exemplo disso são os Katas no judo!) mas que os orientais, nomeadamente os japoneses, aplicam em algumas actividades do dia a dia sob influência do Budismo Zen. Exemplo disso é a cerimónia do chá, os arranjos florais, o Zen no tiro ao arco, cujo objectivo é a superação do “eu” transitório para que o “em Si” se manifeste de forma livre e espontânea, amplificando assim o nível da  consciência e procurando atingir o plano de consciência Universal, da Unidade, do Todo. O “em Si”, como tal é permanente e inviolável, a verdadeira raiz do ser humano, ao contrário do “eu” transitório, uma construção que muito provavelmente se dilui após a morte (ou ficará apenas algures como um registo informático). É a máscara que usamos diariamente para representarmos o nosso papel no mundo.

 

Em suma, o ritual ajuda o praticante a manter-se conectado com o “em Si”. Um pequeno deslize no ritual significa que por momentos a mente divagou, desconectou-se e deixou-se levar para fora do “em Si”. Por outro lado, o ritual que é executado mecanicamente perde todo o significado mesmo se os gestos e os actos são feitos no seguimento mais estrito das regras. Assim a palavra chave é o vazio, a mente serena e desperta mas não activa (torrente de pensamentos). E quando atingido este estado mental a acção surge de forma espontânea e totalmente eficaz. É dentro desta perspectiva que se deve entender a cerimónia do chá, os arranjos florais, o Zen no tiro ao Arco, mas também os Katas no judo, tão mal compreendidos pelos praticantes ocidentais.

 

No entanto o ritual, como tantas outras coisas, pode desvirtuar-se convertendo-se num emaranhado de gestos protocolares, uma “teia de aranha” que em vez de proporcionar a libertação aprisiona o indivíduo à sua teia, perdendo assim o seu propósito.

 

No estado da mente vazia e serena a consciência amplifica-se, todos os constrangimentos e barreiras socio/culturais que se impõem ao ”eu” desfazem-se, tornando a mente livre e ilimitada adquirindo assim a sensação da totalidade e conduzindo o indivíduo à experiência do ilimitado, do Universal, do Uno.

 

É por esta razão que os mestres Zen recusam um ensinamento formal através da linguagem, falada ou escrita, pois esta é uma forma fragmentada de transmissão de conhecimento. Sendo uma representação da realidade não a mostra tal e qual, ou seja, é conceptual e limitada, pois ao atribuir um nome a todas as coisas perde a noção do conjunto, do Todo e sendo um veículo ou um intermediário entre o que conhece (sujeito) e aquilo que é conhecido, interpõe-se como um terceiro elemento interpretando a realidade. Por exemplo, um mesmo texto pode ter interpretações diferentes, ainda que ligeiras.  

 

Daí a frase atribuída a Chuan Tse, um taoista que viveu pouco depois de Confúcio: “Quem sabe, não fala, quem fala, não sabe. E por isso os homens sábios praticam o ensino sem falar.”

 

É óbvio que segundo este princípio só posso concluir que eu nada sei!

 

 

 

Para quem esteja interessado em aprofundar os temas aqui abordados, eis alguns livros:

C.G. Jung, O eu e o Inconsciente, edição Vozes (edição brasileira);

Eugen Herrigel, O Zen na arte do Tito ao Arco;

Stanislav Grof, A Psicologia do Futuro, Via Óptima (sobre psicologia Transpessoal) 

Alan Watts, O budismo Zen

 

Texto original de Pimenta


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021


 

A insustentável impertinência do Narcisista

 

O Narcisista é uma espécie de deus vivo sobre a Terra onde apenas o próprio conta sendo os outros meros figurantes, penumbras, num jogo em que ele é o “Rei” a peça principal.

 

O Narcisista é um solitário que vive em si e para si e assim sendo torna-se numa espécie de solipsista (1). A sua experiência com a realidade que o rodeia é idêntica à de uma criança entre os três e cinco anos para a qual o centro do Universo está em si. Por isso tal como a criança que quando quer uma coisa exige “eu quero!” e por mais que lhe seja explicado isso não ser possível, a criança manterá firme a sua vontade acrescentando apenas um “mas” eu quero! recusando-se aceitar um não como resposta, também o Narcisista recusa o não como resposta.

 

Este é o retrato do Narcisista em sentido abstrato, mas ele existe na realidade em vários “tamanhos”, nas várias classes sociais e até como entidade colectiva: um grupo, tribo ou Nação. É como uma doença que contaminou o ser humano, podendo afectar em maior ou menor grau, transmitindo-se de geração em geração sem fim à vista e pior ainda, sem o devido reconhecimento, o que não é de admirar pois o Narcisista nunca se reconhece enquanto tal.

 

Em resumo, sendo o Narcisismo uma espécie de “doença”, qualquer indivíduo está sujeito a ser “contaminado”, seja um pobre ou um rico, o explorado ou o explorador, pois o narcisista pobre deseja igualmente ser rico não olhando a meios para atingir o seu objectivo e o narcisista explorado uma vez na posição inversa de explorador não se fará rogado. E a História tem-nos mostrado tantas vezes este retrato ao longo dos tempos.

 

O Narcisista pode ser o merceeiro manhoso que adultera as contas do cliente relativamente aos preços afixados para assim obter um lucro ilícito, ou o politiqueiro igualmente manhoso que em vez de servir a Nação  dela se serve em benefício próprio colhendo vantagens tanto económicas como sociais e assim poder subir na hierarquia, ou o artista cujo ego aumenta na mesma proporção em que é aplaudido e diminui na mesma proporção em que as palmas se “esbatem”, ou o filósofo erudito que escreve textos e tratados que só o próprio entende, ou apenas uma pequeníssima minoria e mesmo assim consegue obter reconhecimento público. E a lista seria tão extensa que daria quase um tratado!

 

O Narcisismo passa do indivíduo ao grupo familiar e deste à tribo até chegar às Nações. E assim surgem as conquistas, as guerras, as matanças, que se justificam com as mais estupidificantes teorias “filosóficas”(2), pois o conquistador Narcisista, tal como a criança, afirma “eu quero” e tudo fará para obter o que deseja não se inibindo de produzir sofrimento no outro, por vezes numa matança elevada à glorificação em que o outro que se lhe opõe, a personificação do mal, tem de ser combatido e deposto, existindo apenas como mero figurante num espectáculo em que o Narcisista Nação é a  figura principal de um jogo de poder viciado desde o início. Assim as Nações justificam os seus feitos.

 

A glorificação narcisista das conquistas, exalta os seus heróis, muitas vezes com pés de barro e simultaneamente cria uma espécie de amnésia colectiva relativamente às barbaridades cometidas e outros feitos menos dignificantes. Mas quem poderá atirar a primeira pedra?! E esta glorificação narcisista encontra-se plasmada em Mitos, Cânticos, poemas onde o “carniceiro” matador é transformado em herói, louvado e amado. Do outro lado, o inimigo, a personificação do mal destituído de toda a humanidade, o mero figurante, a penumbra. E a História tem-nos mostrando tantas vezes este quadro!

 

A Nação Portuguesa não é excepção, ora glorificando-se narcisisticamente com os seus feitos e conquistas, ora anulando-se e subjugando-se a outras potências, carpindo as suas mágoas pela perda do Império, como a criança que perde o seu brinquedo favorito, num lamento voltado para dentro de si numa atitude igualmente narcisista mas de sinal negativo, como se toda a fatalidade estivesse contida em si e gerando um pessimismo Nacional tão característico dos portugueses (a frequência com que os portugueses dizem mal de si mesmos é desconcertante!). Em suma, ora a glorificação, ora a lamentação de todo o mal que recaiu sobre a Nação, as duas faces da mesma “moeda”: a insustentável impertinência do Narcisismo.

 

(1)  Solipsismo doutrina filosófica que afirma que todo a realidade é um produto, ou uma construção do sujeito e como tal nada existe fora dele.

 

(2) Exemplo disso foram as teorias surgidas nos séculos XIX e XX que visavam fundamentar as conquistas e o domínio sobre outros povos pelos Impérios emergentes.

 

Texto original de Pimenta


sábado, 1 de maio de 2021

 

Porque será que todo o mundo gosta de mandar bitaites?

 

Bitaite – a origem da palavra é desconhecida, mas entrou no nosso vocabulário e veio para ficar. Ela faz parte do nosso dia a dia tendo-se tornado quase numa “instituição”.

 

E o que é um bitaite? É uma forma opinativa, espontânea, sem qualquer fundamento que a sustente. No bitaite não existe o acto reflexivo sobre aquilo que se bitaita  e por isso o bitaite é “atirado” ao “outro” como uma certeza que não merece contestação, transformando-se assim numa forma dogmatizada para aquele que bitaita, o bitaiteiro! O bitaiteiro não pensa, bitaita sob impulso!

 

O bitaite difere da opinião, pois a opinião pode ser fundamentada, baseada em factos, o bitaite não, é sempre o resultado de uma certeza absoluta que não carece de demonstração, é anti-científica. Por tudo isto o bitaite está num nível mais abaixo da opinião. É o equivalente na música à pimbalhada, a “música Pimba”.

 

Notemos as semelhanças entre as palavras pimba e bitaite. O pimba usado como interjeição, substantivo feminino, indica uma ocorrência imprevista, tal como o bitaite que sendo espontâneo é também imprevisível. A música Pimba exprime igualmente um acto espontâneo, tendo a origem da expressão numa música de um cantor popular, Emanuel, cuja letra ...”e nós Pimba” ficou célebre.

 

Outra curiosidade do bitaite é o facto de ser a única forma opinativa que se manda: “mandar um (ou vários) bitaites”. Nunca dizemos mandar uma opinião, ou mandar um conselho, mas sim dar uma opinião ou  dar um conselho. O bitaite manda-se, atira-se à cara de quem se manda, sem dó nem piedade, como uma sentença num tribunal, ou até como uma pedrada que se lança nas fuças da “vítima” sem aviso prévio. Por isso mesmo o bitaite é uma espécie de “arruaceiro” que por vezes tem o condão de criar um certa irritação a quem é mandado: “deixa-te lá de mandar bitaites!”

 

O bitaiteiro, sendo o bom exemplo de um pensamento irreflectido,  tem também algo de narcisista, estando  mais atento aos defeitos dos outros do que aos seus e banalizando o mal que possa acontecer aos outros. Imaginemos alguém que tendo perdido o emprego e a casa, esteja a chorar compulsivamente, apoiando uma das mãos sobre o rosto, o maxilar. O bitaiteiro logo diz: “ Oh pá, aquilo é uma dor de dentes que o gajo tem!” E assim a “sentença” é proferida pelo bitaitero com uma certeza inabalável!

 


“Andam a mexer lá em cima!”

 

Há vários géneros de bitaites e alguns são verdadeiras “obras de arte” de criatividade e originalidade. Um exemplo. Há uns anos atrás, escutava uma conversa num autocarro, onde alguém falava sobre o tempo demasiado quente ou demasiado frio para a época, em resumo sobre as bruscas mudanças climáticas que já então se faziam sentir. Foi então que um bitaiteiro proferiu a sua “sentença” para explicar o fenómeno: “pois é, andam a mexer lá em cima!..” Confesso que semelhante afirmação me deixou perplexa. Mas quem seriam aqueles ou aquelas, na cabeça desta criatura, que andariam a mexer lá em cima? Perguntei-me. Seriam os extraterrestres, os deuses do Olimpo, agentes dos serviços secretos, seres invisíveis?! E de que forma andavam a mexer lá em cima ?! Por artes mágicas, com instrumentos de engenharia desconhecida?! Não lhe perguntei porque não tive coragem para o fazer embora vontade não me tivesse faltado. Outra curiosidade deste criativo bitaiteiro é que a sua afirmação dita deste modo “andam a mexer...” pressupõe que quem o escuta sabe a quem se refere, assim como o “lá em cima”, pois a extensão do “lá em cima” é incomensuravelmente grande, uma vez que tanto pode ser a atmosfera terrestre ou para além dela. Mas o pior de tudo é que estes bitaites, transmitidos como certezas absolutas, são depois espalhados pela população que os engole e posteriormente os “regurgita” para alguém os engolir de novo e... por aí fora.

 

Há também os bitaiteiros compulsivos que não conseguem estar calados mesmo quando deviam e os bitaites maldizentes, muito do agrado dos portugueses. Inventa-se e bitaita-se muito, especialmente sobre quem não se gosta ou de quem se inveja. Mas para consolo de todos nós, parece que este mal não é exclusivo dos portugueses.

 

Um certo indivíduo de uma rádio francesa que supostamente terá vindo a Portugal e digo supostamente uma vez que o teor das suas afirmações relativamente aos portugueses era tão descabido que duvidei da sua vinda, resolveu mandar uns bitaites sobre os portugueses, começando por dizer e cito, que ficou “desagradavelmente decepcionado”, tendo referido em jeito de crítica, que tudo fechava à uma hora da tarde aos fins de semana. Por acaso não se teria dado conta de que estávamos em confinamento?! Afirmou que os portugueses se vestiam como há 12 anos atrás  e que os rapazes punham gel no cabelo com efeito de ‘cimento’, “porque eles são portugueses”, acabando por comparar este tipo de penteado com o de Jonathan Daval, um criminoso francês, referindo ainda outros disparates que não consigo imaginar onde os foi buscar. Ora há aqui uma coisa peculiar. Tendo ele estado numa altura de confinamento como o seu próprio comentário sugere, não andaria quase ninguém nas ruas, então onde é que ele viu todos portugueses com gel na cabeça com efeito de cimento?! O humorista Luís Franco-Bastos respondeu-lhe à letra e com classe, mandando também ele os seus bitaites.

 

Mas os bitaites da criatura tiveram ainda outro aspecto peculiar, é que não foram ditos espontaneamente como regra geral os bitaites são mandados. Todos os seus bitaites foram lidos a partir de uma folha, como se poderá ver no vídeo que está disponível online. Então esteve cá há tão pouco tempo, na altura do confinamento e não tem a memória viva daquilo que viu precisando de um suporte em papel para se lembrar?! Este é um excelente exemplo de bitaites maldizentes que deve ter tido como motivação uma certa “azia” provocada pela final de um certo Campeonato Europeu de Futebol, em França, que os portugueses tiveram a ousadia de ganhar!

 

 

Antídoto anti-bitaite

 

Para quem esteja interessado e sendo um bitaiteiro compulsivo ou impulsivo e se queira livrar desse mal que afecta o cérebro de muita gente, como uma doença infecciosa transmissível, vou fornecer de forma gratuita o antídoto para o mal.

 

1ª Vamos instituir um mandamento Universal: NÃO BITAITARÁS! 


Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia, 10 vezes antes de dormir.

 

2ª Vamos seguir a seguinte regra:

Regra da evidência O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir nos meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.” René Descartes, As Regras do Método, 1º regra do método

Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia 10 vezes antes de dormir.


Texto original de Pimenta

 

 Veja também o próximo artigo onde predomina o humor contundente e a ficção:

    https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Fic%C3%A7%C3%A3o

 

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de abril de 2021


 

Como optimizar a sua liderança

 

Antes de mais vou começar por contar um episódio que foi fundamental para que eu tomasse consciência de que um líder não tem de ser alguém que impõe a sua visão aos outros, sem os escutar, um “líder musculado” e que aquilo a que eu chamo o “líder silensioso” pode ter mais influência sobre os outros do que o musculado, evitando conflitos entre os seus colaboradores.

 

Quando estava a fazer um curso se Formação de Formadores extenso (558h) foi-nos proposto pelo formador um exercício bastante interessante. Em primeiro lugar deveríamos formar grupos de cerca de cinco a quatro pessoas, depois individualmente teríamos de fazer esse exercício que era uma espécie de teste cuja finalidade nós só a soubemos  após a conclusão do mesmo. O teste constava do seguinte:

 

-       um barco estava prestes a naufragar e os naúfragos teriam de levar para o bote salva-vidas um número limitado de utensílios que seriam mais adequados á sua sobrevivência em alto mar e que poderiam ir desde uma boia, linha de pesca, bússola, etc. Cada um de nós, individualmente, escolhia um número de objectos, previamente definido, que achava mais apropriados para a situação e escrevíamos na folha que nos era dada. Após esta primeira etapa do exercício, em conjunto deveríamos decidir a mesma coisa até chegarmos a um consenso, dentro de um limite de tempo previamente acordado. Havia três ou quatro grupos  na sala e um deles era particularmente ruidoso, pois havia duas pessoas, um rapaz e uma rapariga, que eram particularmente assertivos, com personalidades algo impositivas e como tal discutiam muito, puxando cada um para o seu lado e mostrando dificuldades em chegar a um consenso nesta etapa do exercício. Tive a felicidade de estar num grupo que era particularmente tranquilo, onde as pessoas não se “atropelavam”  uma às outras quando expunham as suas ideias, o oposto do que acontecia no referido grupo anterior. Espontaneamente não intervim muito no debate de ideias do grupo mesmo quando não estava a concordar com algumas das propostas, mantendo-me quase sempre calada. Deixei que todos falassem e chegassem a um consenso, só no fim é que calmamente intervim e expus a minhas objeções de uma forma serena e com argumentos lógicos. O grupo concordou com a maioria das minhas objeções e assim modificamos as proposta que inicialmente tinham sido escolhidas pelo grupo. Saliento que a minha intervenção no debate de ideias foi mínima.

 

Após esta última etapa do exercício proposto, foi-nos facultada a solução do teste numa folha onde constavam os objectos que realmente seriam imprescindíveis para a sobrevivência em alto mar. Comparámos com as propostas que tínhamos feito individualmente e assinalámos o número de objectos que tínhamos acertado. Depois verificámos os objectos que em conjunto tínhamos acertado e comparávamos com as escolhas individuais do grupo a que pertencíamos. Isto tinha como finalidade perceber se as nossas escolhas individuais estavam mais próximas ou mais afastadas das do grupo e qual das pessoas teve mais influência em cada grupo, pois o número de escolhas individuais que estivessem mais de  acordo com as escolhas do grupo significava isso mesmo.

 

Eu fui a pessoa que acertou em mais objectos, não só do meu grupo, como de todos os outros, mas também fui a pessoa que mais influência exerceu no grupo a que pertencia, uma vez que os objectos por mim escolhidos eram maioritariamente os mesmos escolhidos pelo conjunto dos membros do meu grupo, mais do que qualquer dos outros participantes. Consequentemente o meu grupo foi aquele que teve um melhor desempenho. Quanto ao grupo mais barulhento e que discutia muito, foi o que menos acertou, quer individualmente quer colectivamente, tendo mostrado por isso mesmo um pior desempenho.

 

 

O Líder silencioso

 

Eu fui um líder silencioso que intervim o menos possível e no entanto tive mais influência sobre as decisões finais do grupo, por várias ordens de factores:

 

1º Deixei  que todos falassem sem cortar a palavra a ninguém mesmo quando não concordava com as opiniões;

 

2ª Não tentei impor as minhas ideias ao grupo e expliquei os meus pontos de vista utilizando uma argumentação lógica, com serenidade e sem exaltações, o que não acontecia com o grupo barulhento que foi o  que teve a pior prestação. Mas também beneficiei do facto de o meu grupo ser formado por pessoas que, como referi anteriormente, era o mais sereno e sabiam escutar-se uma às outras. Estou certa de que se eu estivesse no grupo mais barulhento não teria tanta influência sobre o mesmo!

 

A minha forma de actuar foi espontânea e não premeditada e foi deste modo que aprendi e ganhei consciência de que para obter os melhores resultados de um grupo de trabalho, um ambiente sereno e o respeito dos membros são a base para o sucesso do grupo. Também me tornei mais consciente de uma forma mais eficaz de liderar uma equipa, a qual resumo do seguinte modo:

 

Um bom líder sabe escutar sem cortar a palavra daqueles que expõem as suas ideias, mesmo não concordando com elas. Saber escutar é fundamental seja em que situação for, para que as coisas funcionem da melhor maneira. Infelizmente esta não é a melhor característica da nossa sociedade e os exemplos (maus) vêm da televisão onde parece ter-se tornado norma alguns entrevistadores interromperem constantemente o entrevistado, não dando tempo a que este exponha as suas ideias;

 

Um bom líder não precisa de um ego forte e impositivo e dar nas vistas como um galo de capoeira;

 

Um bom líder sabe tirar o melhor que há nos outros e reúne-se de pessoas que se saibam escutar uma às outras;

 

Um bom líder busca consensos e proporciona um ambiente isento de conflitos;

 

Um bom líder é autoconfiante sem ser arrogante e faz-se respeitar por essa mesma característica;

 

Um bom líder é “silencioso”!

 

Texto original de Pimenta

 

Veja também:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Educa%C3%A7%C3%A3o