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sexta-feira, 4 de março de 2022



 

Porque não está a usar o seu computador pessoal?

 

O ser humano foi capaz de desenvolver tecnologia que está constantemente a evoluir alcançando prodígios tecnológicos num curto espaço de tempo, nomeadamente no que respeita a tecnologia informática e computadores (já começaram a aparecer os computadores quânticos que executam tarefas muitíssimo mais rapidamente do que os sistemas binários em uso nos tradicionais computadores). No entanto a inteligência humana e as suas capacidades mentais permanecem idênticas às dos nossos antepassados de há cerca de 5000 anos ou ainda anterior, não parecendo ter sofrido grande evolução.

 

Os nossos antepassados foram capazes de edificar notáveis construções, que ainda hoje deixam surpreendidos os cientistas que questionam como foram capazes de as construir com utensílios rudimentares, o que hoje em dia seria impossível, como é o exemplo das pirâmides do Egipto que remontam há cerca de 5000 anos.

 

Eis alguns exemplos das construções mais antigas conhecidas:

 

·      Gobekli Tepe – entre 8400 a 12000 a.C. Turquia;

·      Tel Qaramel – entre 9670 a 11000 a.C. Síria;

·      Torre de Jericó – Por volta de 8000 a.C. Jericó, Cisjordânia;

·      Çatalhuyuk – cerca de 6500 a.C. Turquia;

·      Khirokitia – entre 7000 a 4000 a.C. Chipre

 

A antiguidade foi capaz de fornecer grandes filósofos, astrónomos, matemáticos, geógrafos, que sem a ajuda da tecnologia que temos hoje, sem máquinas de calcular e sem computadores, conseguiram fazer cálculos muito apurados, como é o exemplo de Erastótenes (275 a.C.) que calculou com muita precisão a circunferência da Terra. Já Aristarco de Samos (310 a.C. - 230 a.C.) conseguiu calcular a distância da terra à lua com bastante precisão. Grandes obras literárias foram escritas pelos nossos antepassados  como os Vedas na Índia, o Tao Te King na China, as peças de teatro escritas pelos antigos gregos e que ainda hoje são estudadas e representadas, obras filosóficas, etc.

 

Posto isto algumas questões se impõem:

 

Como é possível que a tecnologia tenha evoluído tão rapidamente num curto espaço de tempo e as capacidades mentais, a nossa inteligência, permaneça inalterada, tendo em conta o facto de que comparativamente o nosso cérebro ser, com toda a certeza, algo muito mais sofisticado do que toda a tecnologia  informática existente!?

 

Porque razão se fazem tantos esforços para o aperfeiçoamento tecnológico e muito pouco se tem feito para aplicar medidas visando desenvolver a inteligência humana e tirar o melhor partido das nossas capacidades mentais, o nosso biocomputador do qual não estaremos a tirar o máximo proveito, medidas essas que deveriam ser implementadas logo nos primeiros anos escolares?!

 

Como é possível que uma simples máquina de calcular consiga fazer cálculos tão rapidamente e o nosso sofisticadíssimo biocomputador leve uma eternidade para fazer os mesmos cálculos e sem erros?!

 

O que seria de esperar se desenvolvêssemos integralmente todas as capacidades do nosso biocomputador?

 

Será que a nossa inteligência e todas as nossas capacidades mentais se resumem unicamente ao cérebro?

 

Apesar das pesquisas levadas a cabo pelos neurocientistas e dos grandes avanços no conhecimento do funcionamento do nosso cérebro, isso não se tem traduzido em medidas tendentes a desenvolver o biocomputador humano, ou seja, a nossa inteligência, as nossas capacidades mentais. Parece não haver grande interesse por parte dos Estados, pois as pessoas inteligentes são mais difíceis de controlar e manipular do que as mentes estúpidas que se deixam conduzir como ovelhas mansas sendo consequentemente muito mais fáceis de manipular.

 

Como no filme “Lucy” protagonizado por Scarlett Johansson e cuja personagem ganha poderes especiais, como a telecinesia, a telepatia, a capacidade de adquirir conhecimentos instantâneos etc., podemos imaginar que se realmente tirássemos total partido das nossas capacidades, também poderíamos fazer mover objectos só com o poder da nossa mente, comunicar mentalmente com os outros e ainda aprender qualquer matéria instantaneamente sem a fastidiosa e demorada aprendizagem comum.

No entanto o filme “Lucy” incorre num erro grosseiro ao passar a mensagem de que usamos apenas 10% do nosso cérebro. Se isso fosse verdade, as nossas capacidades cognitivas estariam praticamente sem uso, não conseguiríamos pensar, compreender aquilo que nos dissessem, ou mesmo ouvir, ver, sentir, etc. As sinapses são a prova de que utilizamos o cérebro todo.  Não estaremos com certeza é a tirar o melhor proveito das capacidades do nosso cérebro! Como alguém dizia num comentário na internet sobre este assunto, é como se tivéssemos um Ferrari e não tirássemos partido dele. Temos o Ferrari mas em vez de o conduzirmos por auto-estradas a 120Km ou mais, andamos com ele por ruas estreitas a 20Km hora!

 

Mas segundo Michio Kaku, um físico teórico, a telepatia e outras super-habilidades como a telequinésia, não serão possíveis sem a ajuda das máquinas: “A verdadeira telepatia, que se encontra nos romances de ficção e do fantástico, não é possível sem ajuda exterior. Como sabemos, o cérebro é eléctrico. Em geral sempre que é acelerado, o electrão liberta energia electromagnética. O mesmo se pode dizer dos electrões que se movimentam no interior do cérebro, que emitem ondas de rádio. Contudo, esses sinais são demasiado fracos para serem detectados por terceiros e, mesmo que pudéssemos dar por eles, seria difícil atribuir sentido a essas ondas de rádio. A evolução não nos dotou da capacidade para decifrar este grupo de sinais de rádio aleatórios. Mas os computadores podem fazê-lo. Os cientistas conseguiram obter versões rudimentares dos pensamentos de um indivíduo, através de electroencefalogramas.” in Michio Kaku, O Futuro da Mente, Editorial Bizâncio, 2014, pág.96.

 

No entanto esta posição mais ortodoxa encerra uma determinada visão que pode vir a ser alterada, até porque atribui a exclusividade ao cérebro como o único posto de comando da nossa mente, o que vai contra outras investigações levadas a cabo por outros cientistas que, remando contra a “maré”, conseguiram provar que o cérebro não é o único posto de comando e talvez nem seja o principal, mas sim o coração!

 

O Dr. Rollin McCraty, vice-presidente executivo e director de investigação do Instituto   HeartMath, em Boulder Creek, na Califórnia, foi provavelmente um dos primeiros investigadores a atribuir ao coração uma importância que até então não lhe era dada, após várias experiências realizadas, concluindo que o coração é o maior cérebro do corpo!  Obviamente que foi muito criticado, como acontece sempre que a ortodoxia é posta em causa. No entanto outras investigações levadas a cabo por outros cientistas, como o Dr. John Andrew Armour, neurocardiologista, na Universidade de Montreal e no Hospital do Sacré-Coeur em Montreal, chegaram à mesma conclusão corroborando as descobertas do Dr. Rollin, concluindo que o coração é um órgão sensorial e um sofisticado centro de codificação e processamento de informações, com um extenso sistema nervoso suficientemente sofisticado para se poder qualificar como um cérebro. Segundo Dr. Armour, este coração-cérebro pode processar informações e tomar decisões sobre o seu controle independentemente do sistema nervoso central.

 

O coração é também o órgão que gera o maior campo electromagnético e muito superior ao do cérebro! Nas experiências levadas a cabo pelo dr. Rollin o coração respondia primeiro do que o cérebro aos estímulos (imagens que eram apresentadas aos voluntários): “Mais surpreendente ainda, é que o coração parecia receber a informação momentos antes do cérebro.” in Lynne McTaggart, The Intention Experiment, Harper Element, 2008, pág.85, tradução do inglês

Para quem esteja interessado numa explicação mais pormenorizada, veja neste link:

https://www.youtube.com/watch?v=Wb6uoy8hV5w

 

As investigações científicas sobre a mente têm-se concentrado quase em exclusivo no cérebro, só alguns poucos foram capazes de quebrar as "barreiras" para poderem ir um pouco mais longe e analisar outras perspectivas, como por exemplo considerar que as nossas memórias não se concentram unicamente no cérebro mas por todo o sistema nervoso, o que faz pleno sentido se tivermos em conta que a clonagem só é possível por que as células do nosso corpo guardam a memória de todo o corpo!

 

 

Considerações finais

 

Estamos ainda muito longe de percebermos como realmente funciona a nossa mente. Embora os cientistas pareçam ter a pretensão de possuir muitos conhecimentos sobre o assunto, penso que ainda estamos na pré-história desse conhecimento, muito está ainda por explicar e muitas perguntas se podem colocar assim como várias hipóteses. O que é a mente e a nossa consciência? Onde se situa? Estará para além do nosso corpo físico, no nosso campo electromagnético? Será que a nossa mente, a consciência, é energia pura? Será que estamos todos ligados em rede como a internet e os computadores e ainda não nos demos conta? O que estará a bloquear o pleno funcionamento do nosso biocomputador, será um vírus?

 

Toda a informação que circula na internet e entra no computador é transmitida por impulsos eléctricos codificados num sistema binário que o computador depois interpreta e assim sendo podemos dizer que a informação é energia! Assim faz o nosso cérebro quando interpreta os sinais provenientes do exterior e os transforma em imagens, sons, odores, sabores e sensibilidade táctil, através de impulsos electroquímicos, as sinapses. Mas para um computador funcionar é necessário haver um utilizador externo que o manipule, uma mente, uma consciência. Do mesmo modo, talvez o biocomputador humano esteja a ser dirigido por uma mente, uma consciência exterior, energia pura.

 

Estamos demasiado dependentes dos sistemas informáticos e dos computadores (qual o estudante de engenharia que consegue fazer os cálculos de uma simples raiz quadrada sem a ajuda da calculadora?), se eles falharem totalmente poderá ser toda a civilização a desaparecer num ápice, bastando para que isso aconteça ou um ataque informático em grande escala, ou uma descarga de energia proveniente do espaço, como por exemplo uma forte tempestade solar como a que afectou o Canadá em 1989 causando um apagão. Ora sem electricidade nenhum sistema informático irá funcionar! Para piorar ainda mais o cenário, o campo electromagnético da terra está mais vulnerável o que significa que as explosões solares poderão ter efeitos cada vez mais nocivos sobre o nosso planeta!

 

No que toca ao desenvolvimento da nossa inteligência, salvo as devidas excepções, a tecnologia parece estar a criar pessoas cada vez mais alienadas, estupidificadas, viciadas em jogos de computadores, conversas da treta em mensagens de sms e outras que tais.

 

Caro leitor, se tiver uma opinião sobre o assunto ou alguma ideia que gostasse de transmitir teria muito gosto que o fizesse nos comentários!

 

Texto original de Pimenta

 

 

 


 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022




 

Sabe o que é a meditação e para que serve?

 

Algumas pessoas julgam que meditar é pensar profundamente sobre algum assunto. Também poderá ser, mas o termo em geral é usado para designar uma prática usada, por exemplo, em algumas religiões como o budismo ou certas correntes da psicologia como forma de terapia no seu sentido mais amplo possível. Neste caso meditar não envolve a preocupação de pensar em algo profundamente, mas não pensar de todo, ou seja, esvaziar a mente de pensamentos, criar o vazio tornando a mente imperturbável e serena. Esta é com certeza uma tarefa difícil pois somos constantemente bombardeados por pensamentos de toda a espécie a toda a hora e a todo o momento, grande parte das vezes sem tomarmos consciência disso.

 

Convido o leitor a fazer aqui uma pausa para tentar esvaziar a sua mente por apenas um minuto, ou seja, não pensar em nada.

 

(...)

 

Difícil não é? Pois a nossa mente está num estado de burburinho constante e que não é fácil fazer calar, sendo assaltada por preocupações a todo o momento.

 

Várias são as práticas meditativas que se dedicam a fazer calar este burburinho constante criado pela nossa mente e várias são também as técnicas usadas, mas nem todas envolvem ficar sentado(a) imóvel durante longo tempo de pernas cruzadas e com as mãos sobre o regaço. Por exemplo o tai chi é uma meditação em movimento e a  prática do tiro ao arco no budismo Zen tem também a componente meditativa. Na verdade, podemos meditar enquanto executamos qualquer tarefa e até é desejável que o façamos.

 

“A meditação é simplesmente um estado natural de quietude no qual todas as coisas que normalmente são reprimidas, se veem autorizadas a vir à superfície”.

Renée Weber, Dialogue avec des scientifiques et des sages, La quête de l’unité (traduit de l’américain par Paul Couturiau), Editions du Rocher, Chapitre 3 – De la matière et de maya, pág.108 – tradução para português da versão francesa


 

Mas para quê esvaziar a mente e entrar num estado de vazio?

 

Antes de mais é necessário compreender a verdadeira natureza do nosso “eu”. 

O “eu” é uma construção (transitória) que se começa a formar desde que nascemos, sob influência do meio familiar, não esquecendo também a herança genética e posteriormente sob influência do meio sócio/cultural em que se nasce, incluindo a própria língua que falamos que é outra condicionante na forma como percebemos e encaramos a realidade.

 

Em resumo, o “eu” é construído como peças flexíveis que se interlaçam umas nas outras e vai-se modificando ao longo dos anos, mas sem perder um sentido de unidade e coerência, correspondendo cada uma dessas peças às condicionantes familiares, sócio/culturais e linguísticas como foi anteriormente referido. O que faz este “eu” um ser único é a forma como são dispostas, ou interlaçadas, todas as “peças”. Posto isto poder-se-á dizer que o “eu” é um conjunto de informações condensadas de forma única em cada indivíduo, sendo o causador do ruido constante na nossa mente, a corrente de pensamentos incessante e que temos dificuldade em controlar.

 

É neste ponto preciso que intervém a meditação através de práticas e técnicas várias. Em primeiro lugar procura esvaziar e serenar a mente despojando-a do redemoinho constante de pensamentos e preocupações que também afectam seriamente a nossa saúde, para assim poder entrar em contacto com a instância que permanece para além do “eu” transitório e a que Carl Gustav Jung deu o nome de o “em Si” (self), o mestre que nos guia, o centro da nossa psique e de onde emana todo o potencial energético de que ela dispõe. A Psicologia Transpessoal designa esta instância transpessoal (o que está para além da pessoa ou “eu”) por consciência universal, indo talvez um pouco mais longe do que Jung, entrando assim em concordância com as correntes “religiosas” do Budismo das quais recebeu influência.

 

É este esvaziar e serenar a mente o objectivo primeiro da meditação que se pode revestir de técnicas várias e é neste esvaziamento que o “em Si” se pode manifestar de forma livre e espontânea, sem os habituais constrangimentos inerentes ao “eu” apreendidos através do meio familiar e sócio/cultural.

 

Para atingir esta finalidade são usadas determinadas técnicas meditativas ou formas ritualizadas.

 

Ritual

 

Como já vimos é difícil manter a nossa mente vazia, livre de ideias e das habituais preocupações que circulam livremente sem controlo. Ora o ritual é precisamente uma das formas de manter a mente atenta, concentrada, para assim evitar a divagação com o afluxo constante de pensamentos produzidos pelo “eu” transitório.

 

Parece que os orientais perceberam isto melhor do que nós ocidentais que vemos em determinadas formas ritualizadas algo chato e enfadonho (exemplo disso são os Katas no judo!) mas que os orientais, nomeadamente os japoneses, aplicam em algumas actividades do dia a dia sob influência do Budismo Zen. Exemplo disso é a cerimónia do chá, os arranjos florais, o Zen no tiro ao arco, cujo objectivo é a superação do “eu” transitório para que o “em Si” se manifeste de forma livre e espontânea, amplificando assim o nível da  consciência e procurando atingir o plano de consciência Universal, da Unidade, do Todo. O “em Si”, como tal é permanente e inviolável, a verdadeira raiz do ser humano, ao contrário do “eu” transitório, uma construção que muito provavelmente se dilui após a morte (ou ficará apenas algures como um registo informático). É a máscara que usamos diariamente para representarmos o nosso papel no mundo.

 

Em suma, o ritual ajuda o praticante a manter-se conectado com o “em Si”. Um pequeno deslize no ritual significa que por momentos a mente divagou, desconectou-se e deixou-se levar para fora do “em Si”. Por outro lado, o ritual que é executado mecanicamente perde todo o significado mesmo se os gestos e os actos são feitos no seguimento mais estrito das regras. Assim a palavra chave é o vazio, a mente serena e desperta mas não activa (torrente de pensamentos). E quando atingido este estado mental a acção surge de forma espontânea e totalmente eficaz. É dentro desta perspectiva que se deve entender a cerimónia do chá, os arranjos florais, o Zen no tiro ao Arco, mas também os Katas no judo, tão mal compreendidos pelos praticantes ocidentais.

 

No entanto o ritual, como tantas outras coisas, pode desvirtuar-se convertendo-se num emaranhado de gestos protocolares, uma “teia de aranha” que em vez de proporcionar a libertação aprisiona o indivíduo à sua teia, perdendo assim o seu propósito.

 

No estado da mente vazia e serena a consciência amplifica-se, todos os constrangimentos e barreiras socio/culturais que se impõem ao ”eu” desfazem-se, tornando a mente livre e ilimitada adquirindo assim a sensação da totalidade e conduzindo o indivíduo à experiência do ilimitado, do Universal, do Uno.

 

É por esta razão que os mestres Zen recusam um ensinamento formal através da linguagem, falada ou escrita, pois esta é uma forma fragmentada de transmissão de conhecimento. Sendo uma representação da realidade não a mostra tal e qual, ou seja, é conceptual e limitada, pois ao atribuir um nome a todas as coisas perde a noção do conjunto, do Todo e sendo um veículo ou um intermediário entre o que conhece (sujeito) e aquilo que é conhecido, interpõe-se como um terceiro elemento interpretando a realidade. Por exemplo, um mesmo texto pode ter interpretações diferentes, ainda que ligeiras.  

 

Daí a frase atribuída a Chuan Tse, um taoista que viveu pouco depois de Confúcio: “Quem sabe, não fala, quem fala, não sabe. E por isso os homens sábios praticam o ensino sem falar.”

 

É óbvio que segundo este princípio só posso concluir que eu nada sei!

 

 

 

Para quem esteja interessado em aprofundar os temas aqui abordados, eis alguns livros:

C.G. Jung, O eu e o Inconsciente, edição Vozes (edição brasileira);

Eugen Herrigel, O Zen na arte do Tito ao Arco;

Stanislav Grof, A Psicologia do Futuro, Via Óptima (sobre psicologia Transpessoal) 

Alan Watts, O budismo Zen

 

Texto original de Pimenta


domingo, 28 de novembro de 2021


 

 

Yin-Yang: Conhece o verdadeiro significado deste símbolo?

 


Este símbolo taoista do yin-yang de origem chinês popularizou-se muito no Ocidente, mas será que a interpretação que dele fazem os ocidentais é a que corresponde aos princípios do taoismo da qual este símbolo é o reflexo? Será que os ocidentais com a sua tendência para interpretarem todo o saber que lhes é estranho reduzindo-o e transformando-o para se adequarem à sua visão, lhe confere o significado genuíno?



Comecemos pelo princípio. Como foi referido anteriormente este é o símbolo da Filosofia Taoista, cujo representante mais conhecido no ocidente é Lao Tzeu que terá escrito o famoso “Tao Te King”, havendo no entanto um outro autor, Chuang Tze  que sendo menos conhecido no ocidente, viveu posteriormente a Lao Tzeu e escreveu uma série de textos essencialmente aforísticos, “pérolas preciosas” que todos os ocidentais que presam o saber deveriam ler sem os habituais filtros da sua cultura, incluindo aqueles que negam a existência de uma filosofia oriental por faltar aos seus mais ilustres sábios a exposição de todo um corpo de saber, uma doutrina, de forma sistematizada, exprimindo-se essencialmente por aforismos.

 

Mas voltando ao símbolo em questão. Numa avaliação mais apressada poderíamos dizer que estamos em presença de um símbolo representativo de um sistema dual ou binário. Ora essa interpretação espelha a maneira como os ocidentais vêem o mundo, ou seja, a dualidade é a forma como observamos a realidade que nos rodeia e essa característica vem muito antes de Descartes ao qual é atribuída a separação “dos dois mundos”, a dicotomia entre res extensa e res cogito, corpo e alma, matéria e espírito. No entanto esta característica já se encontra nos filósofos pré-socráticos como Parménides por exemplo. Ao proclamar que o ser é e o não ser não é, afirma um ponto de vista dualístico. Em Heraclito esta dualidade está implícita por exemplo na seguinte afirmação: “Os contrários concordam e a bela harmonia nasce do que difere. Tudo nasce da luta”. Também os princípios da lógica formatam a nossa mente para uma visão dualística: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo; uma coisa ou é ou não é.  

 

 

Em suma, a nossa forma de pensar é intrinsecamente dualística e isso reflecte-se também nas várias áreas do saber e da actividade humana, como exemplo no sistema computacional binário (0 e 1). Mas a nossa vida social também é composta por uma visão dualística, algumas vezes extremadas: ou se é a favor de alguma coisa ou se é contra, não há meio termo e por isso mesmo tendemos a ver a realidade a preto e branco. São inúmeros os exemplos mas darei apenas um. Antigamente um professor que batia num aluno fazendo uso frequente da régua e da humilhação era normal e encarado como tal. Não havia qualquer legislação que protegesse as crianças em idade escolar dos maus tratos que por vezes eram infligidos por “pessoas obscuras” com o título de professores. Actualmente o caso mudou de figura e ainda bem, no entanto caiu-se no outro extremo. Há casos em que são os alunos que agredirem os professores ou outros colegas. Foi notícia aqui há alguns anos atrás de um caso desses. Um aluno agrediu um professor. O castigo do aluno foi a mudança de escola! Talvez para agredir outra pessoa na nova escola e assim sucessivamente ir mudando de escola até chegar ao fim da escolaridade obrigatória.

 

 

Resumindo, a visão dualística impede-nos de ver a unidade e é disso mesmo que se trata neste símbolo do yin-yang. Ver nele uma dualidade é como dizer que uma moeda é composta de duas realidades, cara e coroa e não de uma só, a moeda em si. Não existe dualidade neste símbolo, nem tensão entre opostos como em Heraclito, mas uma unidade que se harmoniza com as suas duas polaridades que se interconectam e nascem uma da outra como se pode observar quer nos pequenos círculos de cor oposta quer pela continuidade do conteúdo da circunferência que muda para a cor oposta quando atinge o seu pico (enchimento máximo).

 

 

Não existe no pensamento chinês tradicional uma visão dualística da realidade como para nós ocidentais, não existe a distinção entre energia e matéria pois consideram que a matéria é a própria energia condensada. E só será possível entender o pensamento oriental se percebermos isto e soubermos assimilar esta forma de ver a realidade. Mas notemos que Einstein na sua célebre equação E=mc2 está em concordância com o pensamento oriental, ao afirmar que a E=energia é igual à m=massa (matéria) vezes c2=a velocidade da luz ao quadrado. Fazendo equivaler a matéria à energia os dois conceitos passam a ser um só! 

 

 

Como foi referido no artigo anterior “Será o Universo uma Sinfonia Musical 3ª parte” o físico dinamarquês laureado com prémio Nobel, Niels Bhor, adoptou este símbolo chinês taoista do yin-yang no seu brasão, pois ele observou que os estados polarizados das partículas se complementam, tal como a simbologia do yin-yang cujos extremos se complementam equilibradamente reflectindo assim a visão taoista do Universo. Viu neste símbolo a solução para as contradições, paradoxos, com que os físicos se deparavam na física quântica, contradições essas fruto de uma visão dualística. Exemplo disso é a famosa experiência de O Gato de Schrödinger: “... é uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. A experiência procura ilustrar a interpretação de Copenhague da mecânica quântica, imaginando-a aplicada a objetos do dia-a-dia. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas, sim, vivo e morto.” in Wikipédia. (Para quem se interessar e quiser aprofundar o assunto poderá ver o link:

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-gato-de-schrodinger/).

 

 

Ora o paradoxo também existe na ciência devido à visão dualística como os cientistas perscrutam a realidade! Niels Bhor muito provavelmente percebeu isso ao ter conhecimento da doutrina taoista e da simbologia do yin-yang na qual ele viu a solução para as (aparentes) contradições da física mecânica.

 

 

Em resumo o pensamento ocidental perdeu a noção do conjunto, da unidade do Todo e isso também se reflecte na forma como vemos os outros. Alguém que socialmente tenha um comportamento exemplar dificilmente é reconhecido como uma pessoa que também pode ter um lado muito obscuro, monstruoso até. Ou seja, na visão dualística as duas realidades não existem em simultâneo na mesma pessoa e no entanto exemplos desses abundam por aí!

 

Texto original de Pimenta