Seguidores

domingo, 28 de novembro de 2021


 

 

Yin-Yang: Conhece o verdadeiro significado deste símbolo?

 


Este símbolo taoista do yin-yang de origem chinês popularizou-se muito no Ocidente, mas será que a interpretação que dele fazem os ocidentais é a que corresponde aos princípios do taoismo da qual este símbolo é o reflexo? Será que os ocidentais com a sua tendência para interpretarem todo o saber que lhes é estranho reduzindo-o e transformando-o para se adequarem à sua visão, lhe confere o significado genuíno?



Comecemos pelo princípio. Como foi referido anteriormente este é o símbolo da Filosofia Taoista, cujo representante mais conhecido no ocidente é Lao Tzeu que terá escrito o famoso “Tao Te King”, havendo no entanto um outro autor, Chuang Tze  que sendo menos conhecido no ocidente, viveu posteriormente a Lao Tzeu e escreveu uma série de textos essencialmente aforísticos, “pérolas preciosas” que todos os ocidentais que presam o saber deveriam ler sem os habituais filtros da sua cultura, incluindo aqueles que negam a existência de uma filosofia oriental por faltar aos seus mais ilustres sábios a exposição de todo um corpo de saber, uma doutrina, de forma sistematizada, exprimindo-se essencialmente por aforismos.

 

Mas voltando ao símbolo em questão. Numa avaliação mais apressada poderíamos dizer que estamos em presença de um símbolo representativo de um sistema dual ou binário. Ora essa interpretação espelha a maneira como os ocidentais vêem o mundo, ou seja, a dualidade é a forma como observamos a realidade que nos rodeia e essa característica vem muito antes de Descartes ao qual é atribuída a separação “dos dois mundos”, a dicotomia entre res extensa e res cogito, corpo e alma, matéria e espírito. No entanto esta característica já se encontra nos filósofos pré-socráticos como Parménides por exemplo. Ao proclamar que o ser é e o não ser não é, afirma um ponto de vista dualístico. Em Heraclito esta dualidade está implícita por exemplo na seguinte afirmação: “Os contrários concordam e a bela harmonia nasce do que difere. Tudo nasce da luta”. Também os princípios da lógica formatam a nossa mente para uma visão dualística: uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo; uma coisa ou é ou não é.  

 

 

Em suma, a nossa forma de pensar é intrinsecamente dualística e isso reflecte-se também nas várias áreas do saber e da actividade humana, como exemplo no sistema computacional binário (0 e 1). Mas a nossa vida social também é composta por uma visão dualística, algumas vezes extremadas: ou se é a favor de alguma coisa ou se é contra, não há meio termo e por isso mesmo tendemos a ver a realidade a preto e branco. São inúmeros os exemplos mas darei apenas um. Antigamente um professor que batia num aluno fazendo uso frequente da régua e da humilhação era normal e encarado como tal. Não havia qualquer legislação que protegesse as crianças em idade escolar dos maus tratos que por vezes eram infligidos por “pessoas obscuras” com o título de professores. Actualmente o caso mudou de figura e ainda bem, no entanto caiu-se no outro extremo. Há casos em que são os alunos que agredirem os professores ou outros colegas. Foi notícia aqui há alguns anos atrás de um caso desses. Um aluno agrediu um professor. O castigo do aluno foi a mudança de escola! Talvez para agredir outra pessoa na nova escola e assim sucessivamente ir mudando de escola até chegar ao fim da escolaridade obrigatória.

 

 

Resumindo, a visão dualística impede-nos de ver a unidade e é disso mesmo que se trata neste símbolo do yin-yang. Ver nele uma dualidade é como dizer que uma moeda é composta de duas realidades, cara e coroa e não de uma só, a moeda em si. Não existe dualidade neste símbolo, nem tensão entre opostos como em Heraclito, mas uma unidade que se harmoniza com as suas duas polaridades que se interconectam e nascem uma da outra como se pode observar quer nos pequenos círculos de cor oposta quer pela continuidade do conteúdo da circunferência que muda para a cor oposta quando atinge o seu pico (enchimento máximo).

 

 

Não existe no pensamento chinês tradicional uma visão dualística da realidade como para nós ocidentais, não existe a distinção entre energia e matéria pois consideram que a matéria é a própria energia condensada. E só será possível entender o pensamento oriental se percebermos isto e soubermos assimilar esta forma de ver a realidade. Mas notemos que Einstein na sua célebre equação E=mc2 está em concordância com o pensamento oriental, ao afirmar que a E=energia é igual à m=massa (matéria) vezes c2=a velocidade da luz ao quadrado. Fazendo equivaler a matéria à energia os dois conceitos passam a ser um só! 

 

 

Como foi referido no artigo anterior “Será o Universo uma Sinfonia Musical 3ª parte” o físico dinamarquês laureado com prémio Nobel, Niels Bhor, adoptou este símbolo chinês taoista do yin-yang no seu brasão, pois ele observou que os estados polarizados das partículas se complementam, tal como a simbologia do yin-yang cujos extremos se complementam equilibradamente reflectindo assim a visão taoista do Universo. Viu neste símbolo a solução para as contradições, paradoxos, com que os físicos se deparavam na física quântica, contradições essas fruto de uma visão dualística. Exemplo disso é a famosa experiência de O Gato de Schrödinger: “... é uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. A experiência procura ilustrar a interpretação de Copenhague da mecânica quântica, imaginando-a aplicada a objetos do dia-a-dia. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas, sim, vivo e morto.” in Wikipédia. (Para quem se interessar e quiser aprofundar o assunto poderá ver o link:

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-gato-de-schrodinger/).

 

 

Ora o paradoxo também existe na ciência devido à visão dualística como os cientistas perscrutam a realidade! Niels Bhor muito provavelmente percebeu isso ao ter conhecimento da doutrina taoista e da simbologia do yin-yang na qual ele viu a solução para as (aparentes) contradições da física mecânica.

 

 

Em resumo o pensamento ocidental perdeu a noção do conjunto, da unidade do Todo e isso também se reflecte na forma como vemos os outros. Alguém que socialmente tenha um comportamento exemplar dificilmente é reconhecido como uma pessoa que também pode ter um lado muito obscuro, monstruoso até. Ou seja, na visão dualística as duas realidades não existem em simultâneo na mesma pessoa e no entanto exemplos desses abundam por aí!

 

Texto original de Pimenta

 


Sem comentários:

Enviar um comentário

Comente, mas com respeito.