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sábado, 6 de novembro de 2021


  

A História de Tibo e a Lagoa dos Antigos

   (caso não tenha lido o artigo anterior "Tibo e a Lagoa dos Antigos" clic no link em baixo)

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Informa%C3%A7%C3%A3o)


 

Tibo e seus arredores são uma povoação muito mais antiga do que se possa pensar e por isso mesmo as pessoas locais chamam à Lagoa que fica perto da aldeia “Lagoa dos Antigos”.

 

Mas quem eram esses Antigos? 

Não deixou nada escrito este povo que habitou há muito tempo estas paragens, muito antes dos romanos e dos iberos que por aqui passaram. Tudo o que se conhece sobre este povo sem nome e sem designação nos chega através de uma tradição oral e simbólica que foi passando pelos vários povos que por aqui viveram posteriormente, havendo também uma breve referência de alguns historiadores antigos, nomeadamente Estrabão, o filósofo e geógrafo grego. Mais tarde esta tradição oral e respectivos símbolos foram compilados num livro do séc. XVI atribuído a um humanista e hermetista de origem Florentina, Giovanni Maro, que andou por estas paragens e que muito se interessou por este povo singular, sem nome. No início do século passado um habitante desta aldeia editou um livro de autor, que se encontra esgotado, fazendo um apanhado de toda a tradição oral socorrendo-se também do livro de Giovanni Maro.

 

 


Crê-se que este povo sem designação terá habitado esta região muitos milhares de anos antes de Cristo. Reza a tradição que chegaram vindos do mar, depois de terem enfrentado uma catástrofe que se abateu sobre a Terra, em que as águas do mar engoliram várias regiões do planeta incluindo aquela onde habitavam, tendo a maioria da população perecido. Estes eram os sobreviventes dessa catástrofe que faz parte da memória colectiva de vários povos.

  

A razão pela qual terão escolhida uma região tão distante da costa parece prender-se com o facto de se sentirem mais seguros longe do mar dadas as circunstâncias pelas quais passaram.

 

Esta gente que aqui aportou trazia consigo uma civilização cultural e socialmente muito avançada e muito rica, mas mais importante ainda era o domínio que tinham sobre as suas mentes. 

 

 

Era um povo pacifista que abominava a guerra e desprezava a luta pelo poder, por isso mesmo não havia no seu seio disputas pela liderança, pois todas as decisões eram tomadas pela comunidade dirigida ou melhor dizendo aconselhada por um grupo de anciãos, homens e mulheres sábios e que eram reconhecidos como tal, destacando-se entre eles um casal muito respeitado e ouvido pela comunidade de nome Tíbio e Perónia, nomes estes que lhes podem ter sido atribuídos posteriormente pela imaginação popular e não serem os nomes verdadeiros. Foram estes que com os seus sábios conselhos dirigiram este povo para esta localidade que é hoje conhecida por Tibo, uma corruptela do nome de Tíbio, onde encontraram um paraíso à sua medida, pleno de magia e de encanto e que serviu os seus propósitos. Primeiro encontrar um lugar específico onde as forças da natureza, que eles sabiam dominar na perfeição, se faziam sentir nesta região e em particular na zona da denominada Lagoa dos Antigos, para assim poderem entrar em contacto directo com as “forças da Natureza” que lhe permitiam encontrar a harmonia divina e assim restabelecer a ligação entra o Céu e a Terra, ligação essa que se terá perdido durante o período caótico pela qual a humanidade terá passado após a catástrofe que se abateu sobre a Terra. Por isso a Magia era do conhecimento comum deste povo que aprendia a Arte da Magna Magia desde muito pequenos, dominando o vento a chuva o fogo e a terra (as suas forças telúricas).

 

Maioritariamente comunicavam sem palavras, sendo estas utilizadas sobretudo como forma invocativa nos actos da Magia em que a vibração da palavra detinha um poder sobrenatural podendo dar origem à criação de novos seres ou a forças benéficas para a comunidade e ainda fazer levitar enormes menires que eram colocados em lugares específicos orientados para determinadas constelações com o efeito de produzir uma espécie de circuito magnético poderoso e simultaneamente fazer a ligação com o Céu habitado pelos “deuses”, beneficiando assim da protecção destes.

 

Embora a linguagem falada fosse ocasionalmente escolhida como modo de exprimirem os seus pensamentos, sendo esta já uma forma de decadência da sua cultura que se haveria de acentuar com o passar dos anos assim como outras características que se foram perdendo, como a harmonia do grupo, a ausência de querelas, o espírito de comunidade onde todos cuidavam de todos, a transmissão do pensamento era o modo natural e desejável de comunicação e por isso mesmo a mentira, a maledicência, eram desconhecidas deste povo, uma vez que não havia como esconder qualquer tipo de pensamento.

 

Era na Lagoa dos Antigos e no prado verdejante que se encontra ainda hoje perto da dita Lagoa, onde faziam as suas cerimónias e os seus actos de Magia que os levava para “regiões” e dimensões que ultrapassam em muito a imaginação do mais fértil sonhador. Estes actos de Magia eram presididos pelos anciãos mais conceituados e reconhecidos como tal por toda a comunidade onde sobressaía o casal Tíbio e Perónia. Eram eles que na verdade dirigiam, sem comandar, este povo, pois a noção de comando, autoridade, estava ausente do seu pensamento. Havia dirigentes, sim, mas que não se impondo pela força ou pela persuasão das palavras, se “impunham” (à falta de outra palavra melhor!) pela persuasão dos seus seres, a sua sapiência, a sua visão, o seu bom senso, a sua generosidade, enfim, o seu carácter, características estas que a nós, hoje, nos podem parecer tão estranhas e que com toda a certeza estão ausentes da classe que actualmente nos governa.

 

Diz-se que as suas moradas translúcidas e cristalinas eram feitas de uma substância muito subtil, etérea. A quintessência? Ou será que era aquilo que hoje conhecemos como plasma, o quarto estado da matéria e que eles já dominavam?

 


Os cépticos dizem que esta civilização nunca existiu e que tudo não passa de lendas e mitos construídos ao longo dos tempos pela fértil imaginação popular argumentando com o facto de nunca ter sido descoberta qualquer evidência arqueológica que suportasse a tradição oral. No entanto, se pensarmos que também Tróia foi  considerada durante muito tempo apenas um Mito relatado na Ilíade de Homero e posteriormente se veio a descobrir que afinal a dita cidade de facto existiu, pode levantar-se a questão: Será a História de Tibo e a Lagoa do Antigos um Mito que se poderá tornar realidade?"

 

História ficcionada por Pimenta

 

 


 

 

 

domingo, 17 de outubro de 2021


 

Tibo e a Lagoa dos Antigos

 

Tibo é uma aldeia escondida na Serra do Soajo a poucos quilómetros da vila  com o mesmo nome, fazendo parte do Parque Nacional da Peneda Gerês. O caminho de acesso a Tibo que tem início na estrada M530 que sobe a serra e de onde se vislumbra uma magnífica paisagem de encantar a vista, termina na própria vila.

 

A aldeia de Tibo não oferece nada de especial ao caminhante que procura encontrar os encantos escondidos do Parque Nacional da Peneda Gerês. Nada há para ver de interessante na aldeia, apenas uma pequena igreja se destaca no largo principal. No entanto, Tibo guarda uma pérola bem escondida e de acesso difícil: A Lagoa dos Antigos actualmente baptizada de Lagoa dos Druidas.


  Lagoa dos Antigos ou Lagoa dos Druidas


O trilho que dá acesso à lagoa e que segue no sentido da Mistura das Águas, já muito perto de Espanha, começa muito antes de Tibo. Mas a primeira dificuldade que se apresenta ao caminhante que deseja conhecer a referida Lagoa é saber onde começa o caminho a partir de Tibo. A segunda é descer a ladeira que dá acesso a um magnífico prado verdejante, ladeado por árvores cujas copas lhe conferem um certo ar de mistério e de magia e daí encontrar a descida de acesso à Lagoa dos Antigos que também não se afigura muito fácil. A ladeira é tão longa e íngreme, cheia de pedras rolantes, que desmoraliza o mais afoito e destemido caminhante. Aqui não é verdade que “para baixo todos os santos ajudam”. Neste caso terá o afoito caminhante de meter os “travões às quatro rodas” se quiser chegar lá baixo incólume e de boa saúde!      

                                               

                                                    Caminhante contemplando a paisagem


Esta poderá ser uma etapa desmoralizante para quem quiser conhecer a Lagoa dos Antigos, no entanto há uma segunda opção que é continuar pelo trilho principal que leva à Mistura das Águas e depois encontrar um caminho do lado esquerdo que conduz a uma espécie de paraíso perdido, A Lagoa dos Antigos e seus arredores. Aqui a dificuldade está mesmo em encontrar o tal caminho. Ora esta segunda opção embora mais longínqua é belíssima. O caminhante acabará por entrar numa espécie de bosque encantado, verdejante e fechado pelas copas das árvores, onde o musgo que se estende pelos muros que se vão encontrado pelo caminho se assemelha a um manto de veludo de cor verde. O caminho de terra batida nem sempre é fácil pois por vezes encontram-se partes onde abundam as pedras que dificultam a caminhada e propiciam uma espécie de gincana às sapatilhas. O caminhante depara-se também com vários percursos de água que atravessam o caminho, deixando a terra enlameada.

 

                                     Trilho do Caminho Mistura das Águas  

Aqui o tempo parece ter parado, existindo apenas a musicalidade própria de uma natureza sublimada para além do real, que a voracidade destruidora do ser humano (ainda) não contaminou. A água que corre ligeira e atravessa o trilho dá o tom certo e o seu borbulhar imprime o ritmo à musicalidade deste pequeno paraíso. O vento que por vezes se faz sentir ora mais forte ora como pequena brisa entra nesta sinfonia no tempo e modulação adequada, fazendo com que as folhas das árvores vibrem produzindo um som que se harmoniosa tanto com a paisagem como com o conjunto musical produzido pelos vários sons da natureza, incluindo os chilreios dos pássaros, com os seus afinadíssimos trinados, magníficos e inigualáveis sopranos que a voz humana não consegue igualar (contudo haverá raras excepções!). Mas esta musicalidade harmoniosa própria da natureza e que aqui se faz sentir com inusual intensidade e dinâmica, nem sempre é perceptível ao ouvido humano, destreinado e habituado a outras musicalidades, tomando esta harmonia natural como simples ruídos da natureza.  Mas aqui a música é outra e produzida por uma orquestra que se veste de cores variadas, ao contrário das orquestras sinfónicas humanas que preferem apresentar-se ao público vestidos de preto, ausência de luz. Será um luto inconscientemente assumido pela perda de conexão com a harmonia divina? (ver artigo anterior)


                                                        Natureza Sublimada

                                   Texto original de Pimenta

                                   Fotografias de Manuela Ferreira

Para ver o artigo anterior composto por três partes clic no link:

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 

 

Será o Universo uma “Sinfonia Musical”?

3ª e Última Parte

Caso não tenha lido a segunda e /ou a primeira parte deste artigo, clique no link:

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1.    Da música Barroca à música contemporânea 

 

A música Barroca também ela é marcada pelo tema da música das esferas nomeadamente em Bach cujas últimas obras são caracterizadas por uma “pureza matemática e musical” sendo disso exemplo as “Variações de Goldeberg” e o “Cravo bem Temperado”.

 

                     

A música erudita desde o Renascimento, passando pelo Barroco e o Classicismo é dominada pela procura da Harmonia Universal, a justa medida, ainda que adquirindo as diversas formas de acordo com os compositores e respectivas épocas nas quais viveram. O compositor não era a personagem principal do acto criativo mas uma peça secundária, um elo que propiciava esse contacto do ouvinte com a harmonia Cósmica, ou divina, através da música, dependendo a sua sobrevivência enquanto músico de um mecenas. O romantismo irá ser a excepção a esta regra, pois a tónica irá ser dada às emoções que a música desperta no ouvinte, como a tristeza, a melancolia ou a alegria exaltada e o compositor passa a ser uma figura em destaque, como por exemplo o narcisista Wagner, ou o excepcional violinista Paganini. Tendo em conta as devidas excepções, a ligação com a harmonia Cósmica divina ter-se-á quebrado, ressurgindo novamente com outras roupagens na música atonal do compositor Shoenberg. 

 

 

A Física Quântica e a teoria de cordas 

 

Há várias características comuns entre a física teórica e o pitagorismo. Na física teórica a matemática descreve as qualidades da matéria, da energia e também do espaço, ou seja, a matemática é utilizada sob um prisma predominantemente qualitativo, tal como eram os números para os pitagóricos os quais não se reduziam a elementos quantitativos, mas correspondiam a formas geométricas como já vimos anteriormente. É interessante o modo como os físicos teóricos se referem às equações matemáticas que os próprios produzem, designando de ”elegantes” as que  possuem uma simetria (quando a equação permanece sempre igual mesmo que os seus componentes sejam reorganizados ou baralhados, in Michio Kaku, A equação divina, Bertrand Editora, Lisboa 2021, pág. 42) e de uma forma simples conseguem traduzir os conceitos da física, como por exemplo a célebre equação atribuída a Einstein E=mc2 que de uma forma curta introduz uma reviravolta na física clássica newtoniana, pois o espaço e o tempo deixam ser considerados absolutos passando a ser relativos. Outro aspecto muito interessante é que a teoria de cordas da física quântica e a mais recente teoria M, uma actualização da primeira, retoma de uma forma mais científica a ideia de um Universo Musical, em que os “elementos” fundamentais que existem no Universo e que estão por detrás de toda a matéria são as chamadas cordas bidimensionais cuja vibração vai originar o aparecimento das partículas que constituem a matéria. Sendo assim tudo o que dá origem à matéria e seus constituintes mais fundamentais é pura vibração e vibração é som. Se assim for é certo que o Universo vibra e como tal produz sons se bem que inaudíveis para o ouvido o humano. 


A teoria de cordas no hiperespaço


 

Mas darei a voz a quem sabe do assunto: Michio Kako é professor catedrático de física teórica da Universidade de Nova Iorque, americano de ascendência japonesa. Publicou vários livros de divulgação sobre física quântica que se caracterizam por uma clareza, tanta quanto possível neste assunto, lucidez e até sentido de humor, que torna a leitura dos seus livros verdadeiramente aliciante para o comum dos mortais que se interessam pelo tema.

 

A teoria de cordas e a teoria M baseiam-se na ideia simples e elegante de que a espantosa variedade de partículas subatómicas que constituem o Universo são semelhantes às notas que se podem tocar numa corda de violino ou numa membrana como a pele de um tambor. (Não se trata de cordas e membranas comuns; existem em hiperespaços de dez ou onze dimensões.)

 

Mas, de acordo com a teoria de cordas, se tivéssemos um supermicroscópio que nos permitisse sondar o núcleo de um electrão, veríamos que não era um partícula pontual, mas sim uma minúscula corda vibratória. Só parecia ser uma partícula pontual porque os nossos instrumentos eram demasiado rudimentares.

 

Esta minúscula corda, por sua vez, vibra com frequências e ressonâncias diferentes. Se quiséssemos tocar esta corda que vibra, mudaria de modo e transformar-se-ia noutra partícula subatómica, como um quark. Se a tocássemos de novo transformar-se-ia num neutrino. Deste modo, podemos pensar as partículas subatómicas como se fossem diferentes notas musicais da mesma corda. Podemos agora substituir as centenas de partículas subatómicas observadas no laboratório por um único objecto, a corda.

 

Neste novo vocabulário, as leis da física, cuidadosamente construída ao longo de milhares de anos de experimentação, mais não são do que leis de harmonia que se podem descrever como cordas e membranas. As leis da química são as melodias que podemos tocar nestas cordas. O Universo é uma sinfonia de cordas. E a “mente de Deus” de que Eisntein falou eloquentemente, é a música cósmica que ressoa através do hiperespaço.”  Michio Kaku, Mundos Paralelos, Editora Bizâncio, Lisboa, 2010, pág. 37

 

“A beleza da teoria de cordas está no facto de poder ser relacionada com a música. A música oferece a metáfora através da qual podemos compreender a natureza do universo, quer ao nível subatómico como cósmico.” op. cit. pág. 210 

 

Para quem se interessar pelo assunto clicar no link :

https://www.bbc.com/reel/video/p09xhj2b/string-theory-a-simple-way-to-understand-the-universe



Considerações finais

 

Parece ser evidente haver um conhecimento ancestral, que remonta a civilizações muito antigas, atirado desdenhosamente para o foro do misticismo ou da religião, quando muito da Filosofia, por carecer de evidência científica e no entanto a ciência e a física em particular começa a confirmar alguns desses conhecimentos.

 

Niels Bhor o físico dinamarquês que ganhou um prémio Nobel e um dos fundadores da física atómica, a determinada altura da sua vida dedicou-se ao estudo do taoismo atraído pela simbologia do Yin e do Yang e tudo o que isso poderia implicar para a explicação de alguns fenómenos da física. No seu brasão introduziu esse símbolo e a frase em latim, “os opostos complementam-se”. Já Werner Heisemberg interessou-se pela cultura indiana e nas suas reflexões filosóficas mostrava uma tendência para a filosofia platónica, enquanto Erwin Shrodinger dedicou-se ao estudo dos Vedas e do Budismo indiano.

 

 

Brasão de Niels Bhor

Texto original de Pimenta


Veja também o artigo anterior "Os Esquecimentos da História". Clicar em baixo:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Hist%C3%B3ria?updated-max=2021-06-28T06:03:00-07:00&max-results=20&start=2&by-date=false
 

 


 



domingo, 19 de setembro de 2021


 

Será o Universo uma “Sinfonia Musical”?

2ª Parte

Caso não tenha lido a primeira parte deste artigo, clique no link:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Universo%20Musical%20-%201%C2%AA

 

 

A Harmonia Musical na Arquitectura

 

A tentativa de recriar a harmonia Cósmica e a noção de intervalo harmónico presidida pelo número, não fazia parte apenas da música, estava também presente naquilo que se passou a chamar Arquitectura Sagrada, (não confundir com arte sacra!) onde muito provavelmente as tradições egípcias terão tido uma grande influência pelas razões anteriormente expostas.

 

“O templo grego constitui uma verdadeira música petrificada e Georgíades pôde, pelo estudo dos intervalos que separam as colunas do Partenon e os Propileus, encontrar números rigorosamente proporcionais à escala pitagórica. Semelhantes tradições de harmonias arquitecturais, com as habilidades que comportavam para construir poliedros regulares ou figuras repletas de simbolismo esotérico, como o hexágono, a rosácea, o pentagrama, transmitiram-se dos Pitagóricos aos construtores de catedrais da Idade Média.” Jean Brun, op. cit., pág. 34

 

Foi assim que surgiram os “maçons”, palavra francesa que significa pedreiro, chamados “pedreiros livres” e que construíram várias catedrais e mosteiros. Em Portugal são disso exemplo o Mosteiro da Batalha, o Mosteiro dos Jerónimos entre outros.

 

A arquitectura contemporânea e as artes de uma forma geral, parece terem perdido este elo com a harmonia Cósmica, tirando as devidas excepções, se é que as há. Actualmente vemos construções “cinzentas”; onde predominam as linhas rectas, elevadas a grandes obras de arquitectura. Olhando para um mosteiro da Batalha, por exemplo e para estas “obras” de arquitectura contemporânea, logo pressentimos a grande diferença.

 

 

A Música das Esferas ao longo do tempo

 

1.    A época medieval

 

Na época medieval procurou-se uma reconciliação entre a doutrina cristã e o conhecimento da Filosofia Antiga, nomeadamente em relação à Música das Esferas. Nesse sentido os nomes dos conceitos e entidades pagãs foram transformados em cristãos. Assim a palavra grega Logos (discurso, relato, razão, definição, faculdade racional, proporção) da qual deriva a palavra lógica, é transformada em Palavra de Deus (Logos Divino). As inteligências celestes (cósmicas) de Aristóteles com ligação às esferas celestes, são transformadas em anjos cristãos com a sua hierarquia correspondente, os seus deveres, etc.

 A música e a palavra cantada tornam-se o meio de contacto com  Deus, surgindo assim a Música Sacra, como por exemplo os cânticos gregorianos. Compositores posteriores, desde o Renascimento, passando pelo Barroco, o Classicismo e o Romantismo vão compor Música Sacra. 

 

 

2.    A música na Filosofia Hermética do Renascimento

 

O hermetismo caracteriza-se pelo uso da Magia Natural, na qual se inclui a Alquimia. Ora sendo a magia uma acção que se faz sentir à distância, pode dizer-se que hoje vivemos rodeados dela: os sistemas wireless que ligam aparelhos sem fios fazendo-os conectar à distância, os telemóveis que se ligam entre si através de números!

 

Com o ressurgimento do Hermetismo de forte pendor pagão, muito provavelmente também influenciado pelas correntes de pensamento egípcias que foram transmitidas aos árabes e destes aos ocidentais, esta procura da Harmonia Cósmica reflecte-se também na pintura, ainda que travestida dos princípios cristãos, como se pode observar nas gravuras de Francisco de Holanda “Os dias da Criação” (ver artigo anterior) com forte componente pitagórico e reflectindo a tradição hermética que então se fazia sentir naquela época, séc. XVI.

 

“Não obstante, há uma congruência essencial entre a alma humana e o espírito cósmico, que é a base de toda a magia simpatética. A arte da magia é descobrir que substâncias e acções promovem e canalizam a influência do espírito cósmico.”  tradução do livro de Jamie James, “The Music of Spheres”, Paperbound edition, Copernicus,1995, pág.120

 

Para Marcilio Ficcino que era um fervoroso adepto da magia simpatética baseada na correspondência entre macrocosmos e microcosmos, o método preferido de “chamar” o espírito cósmico parecia ser a música:

 

“A música astrológica de Ficcino era solidamente baseada na noção Boécia de congruência essencial entre a música das esferas, musica mundana, a música do organismo humano, musica humana e a música produzida pelos instrumentos musicais, musica instrumentalis.” Jamie James, op.cit., pág.121

 

Para Pico della Mirandola (séc. XV) nada havia mais eficiente do que os hinos de Orfeu inseridos na música apropriada para o efeito da magia natural.

 

    O templo da Música de Robert Fluud


Robert Fuldd, médico seguidor de Paracelso, astrólogo, matemático e cosmólogo inglês que viveu na época de Isabel l, séc. XVI, acreditava no poder da palavra sagrada para a cura, a oração, o que provavelmente derivava da Cabala judaica (e quem sabe, do orfismo). Daí ele considerar que a pronúncia do nome de Jesus em hebraico tinha um potencial de cura mais forte.

 

Sendo a palavra um som, uma vibração emitida num determinado comprimento de onda e se de acordo com o pitagorismo existe uma ressonância harmónica entre a alma e o corpo, compreende-se assim esta ideia da influência da palavra sobre organismo humano.

 

Pertencendo a sociedades secretas como os Rosa Cruz e a Maçonaria dedicou-se à arte da memória, uma vez que estas sociedades secretas não deixavam nada escrito e os seus ensinamentos tinham de ser memorizados pelos seus membros que não os podiam transmitir a não adeptos. Assim, Robert Fluud fez ilustrações para as suas obras, os palácios da memória que, servindo de mnemónica, facilitavam deste modo a memorização de vastos volumes de ensinamentos secretos pelos adeptos. Uma destas ilustrações é O Templo da Música (ver imagem em cima).

 

Fluud afirmava haver uma harmonia e congruência entre macrocosmo e microcosmos, ou seja, entre o Universo e o ser humano. A sua principal metáfora onde exprimiu esta ideia é a ilustração que se segue da sua obra, “A História do Macrocosmos”:

 

 O Divino Monocórdio



Johannes Kepler, astrónomo, matemático, astrólogo e um entusiasta da magia natural, acreditava na existência da música das esferas sendo a sua grandiosa obra “A Harmonia do Universo” o supremo tratado sobre o tema! Apesar da componente pitagórica e platónica que lhe subjaz, em que o Universo é regulado por um esquema musical perfeito e consequentemente matemático, Kepler concebe a harmonia musical cósmica como sendo polifónica, o que era uma concepção inovadora! A polifonia era desconhecida dos clássicos.

 

Newton, também ele um grande adepto da magia natural e da alquimia em particular, estabelece uma relação entre as sete cores resultantes da decomposição da luz branca através de um prisma, a sua grande descoberta, com as sete notas principais da escala musical.

 

Curiosamente, esta imagem da decomposição da luz branca por um prisma foi usada em toda a capa de um dos mais brilhantes álbuns de que há memória na música contemporânea pop/rock, The Dark Side of the Moon dos Pink Floyd e também um dos mais enigmáticos álbuns jamais produzidos, enquadrando-se no rock progressivo e sinfónico. Será que os Pink Floyd consciente ou inconscientemente tentavam reproduzir a Harmonia Cósmica? No entanto há uma provável falha de impressão (ou de atenção?!) na capa de referido álbum, pois falta uma cor na decomposição da luz pelo prisma, o anil, entre o azul clarinho e o violeta, aparecendo por isso apenas seis cores em vez das sete.

 


Uma outra nota curiosa é que nos anos 60/70 em Inglaterra era habitual os músicos serem provenientes das outras artes como por exemplo da arquitectura, sendo o caso de Roger Waters dos Pink Floyd que estudou arquitectura no Regent Street Poly em Londres.


Fim da Segunda Parte! 

Texto original de Pimenta 


Continua na próxima semana com os sub-temas: Da Música Barroca à Música Contemporânea  e ainda A Física Quântica e a teoria de cordas (a sua relação com a música das esferas). 

Para ver a terceira parte clicar em:

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