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sábado, 13 de fevereiro de 2021


 

                Conto para crianças e adultos!

  

 


As rãs, a raposa e o lago    

                        

Junto a um pequeno ribeiro de água pura e cristalina,  viviam há muitos anos uma pequena comunidade de rãs  felizes e contentes por habitar lugar tão maravilhoso e paradisíaco.

 

Mas um certo dia começaram a aparecer partículas escuras do tamanho de pequenas sementes que obscureceram progressivamente o ribeiro. Estas ficaram muito preocupadas com aquela situação e logo várias teorias foram surgindo tentando explicar a origem das ditas partículas. Umas diziam que eram apenas pequenas partículas de terra resultantes de fortes chuvadas que se tinham feito sentir durante um mês particularmente chuvoso, outras porém, afirmavam que eram minúsculos insectos de origem desconhecida, outras ainda afirmavam que era poluição produzida por algum agricultor que despejava no ribeiro produtos poluentes. Enfim, havia teorias de todo o género. O certo é que a preocupação ia crescendo no meio desta comunidade de rãs.   

 

                          

Um dia uma raposa matreira que andava por perto,  ouviu as discussões das rãs sobre o que tinha sucedido no ribeiro e logo começou a congeminar uma estratégia para as capturar, pois gostava muito de cochinhas de rãs cozidas com cebola, alho e umas folhinhas de louro. Então, abeirou-se  das rãs que se mostraram muito receosas pois conheciam a fama daquela raposa matreira. Mas a raposa tratou de as sossegar dizendo-lhes que não tinha qualquer intenção de lhes fazer mal, pois tinha escutado a conversa delas e as várias teorias que explicavam o aparecimento das ditas partículas na água e ficara também muito preocupada. Aquilo era um assunto que dizia  respeito a todos os animais que habitavam o ribeiro e ainda  dos  que dependiam dele para saciar a sede, como era o caso dela, por isso estava disposta a esclarecer a situação e ajudar as rãs. 

 

Passaram alguns dias e a raposa voltou com novidades para as rãs. Já tinha informações fidedignas   do que eram as tais partículas que continuavam a aparecer na água. Tratava-se pois de um agente poluidor de tal maneira forte que iria começar por atacar a pele das rãs espalhando-se por todo o corpo e acabaria com a morte de todas elas se a situação não fosse revertida A raposa foi tão convincente nos seus argumentos que as rãs não tinham como contestar, com excepção  de algumas, muito poucas, que desconfiavam muito das intenções  daquela raposa matreira. As rãs começaram logo a sentir muito medo e o pavor instalou-se aos poucos e poucos entre a comunidade, tendo várias delas começado a sentir comichões pelo corpo.  À medida que o medo se instalava e as comichões aumentavam, começaram também a surgir manchas escuras.

 

Passado uns dias, quando o pânico já se instalara definitivamente entre as rãs, a raposa matreira, muito satisfeita com o resultado da sua estratégia e fingindo uma enorme preocupação pela situação em que as rãs se encontravam, apresentou-lhes uma solução que, embora provisória, pelo menos iria dar às rãs uma maior protecção e conforto, evitando assim que o mal se espalhasse ainda mais. A raposa era dona de uma propriedade que tinha um pequeno lago artificial com água aquecida no  Inverno e fresca no Verão rodeada por um encantador jardim cheio de árvores e belas flores, um paraíso!, onde as rãs estariam bem protegidas. Se quisessem poderiam lá habitar até que a situação no ribeiro fosse solucionada. Era claro que aquilo se iria resolver pois a raposa estava a par das diligências que se estavam a ser feitas para solucionar o problema.

 

As rãs exultaram de alegria pois aquela parecia-lhes uma boa solução. Apenas algumas se mostraram apreensivas, pois não gostavam da raposa e achavam que ela escondia segundas intenções. Mas foram logo repreendidas pela maioria, pois se a raposa lhes quisesse fazer mal já o teria feito e além do mais nunca tinha mostrado sinais de agressividade para com elas, muito pelo contrário, tinha-se mostrado sempre muito pacífica e tranquila.

 

Foi então decidido pela maior que iriam transferir-se para a propriedade da raposa. Se assim pensaram, assim fizeram. Meteram-se a caminho, apesar das súplicas em contrário daquelas que ainda desconfiavam das intenções da raposa. Estas acabaram por ser severamente criticadas e até mesmo insultadas por mostrarem uma tão grande desconfiança e serem contra a solução que melhor iria servia a condição das rãs. Chegaram mesmo a ser acusadas de sabotadoras! Por isso se não estavam de acordo com a maioria, que se deixassem ficar no charco da ribeira poluída. 

 

Quando as rãs chegaram à propriedade da raposa verificaram que havia vários ratos de guarda, o que muito estranharam mas foram desde logo sossegadas pela raposa que lhes explicou que a função deste ratos era proteger a propriedade e afastar possíveis elementos indesejáveis.

 


Depois a raposa foi-lhes indicar onde ficava o pequeno lago artificial que tinha um rebordo alto e uma pequena rampa de acesso para o seu interior. As rãs subiram pela rampa de acesso e saltaram logo para dentro do lago muito contentes. A alegria tinha voltado para o seio das rãs e até as comichões e as manchas que antes se tinham feito sentir, começaram a desaparecer gradualmente.

 

No entanto, a água que inicialmente estava tépida começou a aquecer mais e as rãs começaram a sentir-se muito relaxadas e o corpo entorpecido. E a água ia ficando cada vez mais quente e mais quente e elas começaram a ficar receosas, mas não já conseguiam reagir, apenas duas delas tinham conseguido  saltar para fora do pequeno lago. E foi então que estas viram com mais cuidado que o pequeno lago não era verdadeiramente um lago, mas sim um caldeirão aquecido por uma fogueira instalada num enorme buraco por baixo e a meio do caldeirão e aquilo que elas julgavam ser folhas de plantas a flutuar sobre a água, eram de facto pedaços de cebola e alho cortados em fatias finas junto com folhas de louro.

 

As duas rãs que tinham conseguido saltar borda fora começaram a berrar para que as outras também fugissem. Mas já era tarde demais pois os seus corpos entorpecidos pelo calor da água quase a ferver não lhes permitia que se mexessem. Iriam morrer cozinhadas! O pânico instalou-se e as rãs começaram a gritar agonizantes. Entretanto, as duas que tinham conseguido saltar para fora do caldeirão, foram enxotadas para dentro dele pelos ratos  que estavam de guarda.

 

A raposa matreira que observava languidamente o pânico das rãs, com um sorriso cínico dizia-lhes:

- O povo é sereno,  o povo é sereno! 


Texto original de Pimenta



                                                     💥

 

          

 

 

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