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sexta-feira, 10 de setembro de 2021


Será o Universo uma “Sinfonia Musical”?

1ª Parte 


A música das esferas

 


Desde a antiguidade clássica acreditava-se que o Universo era composto por esferas celestes sendo estas, no seu movimento circular, que levavam consigo os sete planetas até então conhecidos e consequentemente sendo a causa do movimento destes. Estas esferas no seu movimento circular produziam sons musicais, inaudíveis para ouvido humano, tendo ficado conhecida esta “sinfonia celeste” pela música das esferas. E esta música representava a harmonia divina, ou seja, as “justas proporções musicais”, a harmonia consonante. E deve-se a Pitágoras ter descoberto este princípio de proporcionalidade musical, ou seja, a relação aritmética entre os intervalos harmónicos (dó/mi, mi/sol, sol/si) sendo esta a sua maior contribuição para a teoria musical que hoje conhecemos.  Assim música e matemática estavam intimamente ligadas e o cosmos representava em grande escala essa ligação. 


 

 

As Esferas Celeste com a Terra ao centro


 


 

Mas quem era Pitágoras?

 

Há duas posições principais relativamente a esta personagem obscura que nada deixou escrito e da qual apenas sabemos alguma coisa quer através de fontes escritas posteriores à sua morte quer através de tradição oral que também terá sido transmitida a essas fontes. Uma posição, a ortodoxa que fechada sobre a sua quadratura tende a ignorar o lado místico/mágico do pitagorismo, pois aquilo que não consegue compreender tende a ignorar e a menosprezar, tal como a raposa e as uvas da fábula bem conhecida. No outro extremo temos correntes “new age” dedicadas ao espiritualismo onde tudo entra sem qualquer filtro de objectividade e de bom senso, fazendo de meras suposições verdades absolutas e que são transmitidas a incautos ouvintes também eles muitas vezes destituídos dos necessários filtros da objectividade e espírito crítico.

 

Em resumo, tudo o que se sabe acerca da personagem de Pitágoras não são verdades absolutas mas possibilidades baseadas nas várias fontes a partir das quais se verifica o que há de comum entre elas.

 

Pitágoras é mais conhecido pelo teorema que leva o seu nome, no entanto é bem provável que o dito teorema já fosse do conhecimento de povos mais antigos nomeadamente dos egípcios que o utilizariam nas suas grandiosas construções.

 

Pitágoras nasceu em Samos, uma ilha grega no mar Egeu, pelo ano de 500 a.C., mais de 100 anos antes de Platão. Segundo a tradição terá viajado para o Egipto onde estudou com sacerdotes, o que é verossímil dado o facto de o Egipto representar na altura o grande polo de sabedoria e para onde era frequente os pensadores gregos viajarem para adquirirem mais conhecimentos. Mais tarde fundou uma escola com características de seita religiosa em Crotona, sul da Itália, onde as mulheres eram admitidas e para a qual seria exigido um juramento de fidelidade à seita, não podendo os seus membros divulgar os conhecimentos adquiridos e passados oralmente. Daí Pitágoras não ter deixado nada escrito. No entanto Filolau, um membro da seita, terá traído o juramento e terá vendido a Dinis de Siracusa ou a Dione, três livros contendo a doutrina esotérica dos pitagóricos e terão sido estes livros que chegaram às mãos de Platão tendo exercido grande influência neste filósofo, em particular na sua obra mais tardia o Timeu, na qual aparece a história do continente desaparecido, a Atlântida.

 

 

Os números para os pitagóricos

 

Para os pitagóricos tudo é número, só que os números não têm um valor meramente quantitativo como para nós hoje que vivemos submersos pelos valores das estatísticas, como por exemplo, dos recordes, o indivíduo que consegue comer mais pizas por minuto, do maior número de vendas, etc. Os números pitagóricos nascem da unidade do número um, ou seja, representam a divisão dessa unidade primordial que é representada pelo número um, tendo um valor essencialmente qualitativo e sendo a representação de formas geométricas e de intervalos harmónicos: “A harmonia sensível é a que se faz sentir pelos instrumentos, a harmonia inteligível, a que consiste nos números.” Jean Brun, Os Pré-Socráticos, Biblioteca Básica de Filosofia, Edições 70, pág. 32

 

Os números pitagóricos eram representados por pontos sendo um ponto a unidade, o número um, dois pontos o desdobramento da unidade, dois pontos, o três a soma de dois mais um, três pontos, o quatro a soma do três com a unidade, quatro pontos, formando assim a tetrakis sagrada para os pitagóricos:

 

 

o

o       o

o       o       o

o       o       o       o

 

 


A música para os pitagóricos

 

 

Os pitagóricos consideravam haver três tipos de música:

-  A música instrumental produzida pelos instrumentos musicais como a lira e a flauta;

- A música humana produzida pelo organismo humano, ou seja, a sua ressonância harmónica entre a alma e o corpo e que seria inaudível ao ouvido humano, ou a ressonância desarmónica no caso de doença por exemplo.

- A Música do Cosmos ou seja, a que era produzida pelo movimento das esferas celestes que transportavam os planetas e o sol no seu deslocamento.

 

A música era harmonia e a harmonia do Cosmos era representada pela proporcionalidade dos números pitagóricos: ...” a harmonia é a proporção que une, em qualquer domínio, os elementos em discórdia. Encontra-se naturalmente na música, onde as noções de consonância e dissonância ocupam um papel de relevo. Além disso a música encerra uma aritmética oculta que os Pitagóricos se empenham em fazer surgir, sublinhando o papel essencial desempenhado pelo número e pela proporção.” Jean Brun, op.cit., pág.32.

 

Assim podemos considerara que as notas musicais para os pitagóricos eram a representação audível dos números o que não está longe da realidade, pois hoje em dia sabemos que cada nota e cada tom tem uma frequência bem definida e que pode ser medida por instrumentos. Os afinadores de instrumentos musicais, disponíveis online, medem com precisão a frequência de onda das notas musicais (ondas hertzianas).

 

‘Segundo a doutrina de Pitágoras, sendo o mundo ordenado harmonicamente, os corpos celestes, que estão distanciados dois a dois segundo as proporções dos sons consonantes, produzem, pelo seu movimento e pela velocidade da sua revolução, os sons harmónicos correspondentes.’ Tião de Esmirna, in Jean Brun op. cit., pág. 33

 

“O mundo é como uma lira de sete cordas. Deste modo, para os Pitagóricos, a escala é um problema cósmico e a astronomia uma teoria da música celeste.” Jean Bruno op. cit. pág.33

 

Compreende-se desta forma a importância que a música adquiria para os pitagóricos e posteriormente também para Platão, que consideravam que a harmonia sensível era a que se fazia sentir pelos instrumentos e a inteligível a que se exprimia pelos números. No entanto, nunca saberemos se estas doutrinas pitagóricas foram influenciadas pelo orfismo, seita que tem a sua origem no poeta da época arcaica Orfeu cujo canto, segundo a tradição, exercia um poder sobre as forças da natureza e ficando assim associado ao xamanismo, ou se, pelo contrário, foi o pitagorismo que influenciou o orfismo.

Fim da Primeira Parte! 

 

Texto original de Pimenta

Para aceder à segunda parte deste artigo clique no link: 

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Universo%20Musical%20-%202%C2%BA

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