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domingo, 13 de junho de 2021


 

Será que a História que nos ensinam se passou exactamente como nos foi contada?

 

1ª Parte

 

Há muitas maneiras de adulterar factos históricos e várias são as motivações, mas uma das que se impõe com mais frequência, para além de motivações de ordem política e académica, é o preconceito, nas suas variadas formas, que faz com que a História que nos contam seja um visão inacabada, adulterada, pois peca pela omissão de factos e por vezes pela deturpação dos mesmos segundo as conveniências instituídas.

 

Para percebermos o quanto a ausência de factos pode adulterar a percepção que temos da História, imaginemos o seguinte “quadro”: uma imagem, foto ou pintura, onde se vê do lado direto uma personagem masculina apoiando um dos pés, o esquerdo, sobre uma rocha e olhando o céu numa atitude que poderia ser interpretada como de contemplação sonhadora. No rosto nota-se um ligeiro sorriso. A mão esquerda apoia-se sobre o joelho esquerdo, enquanto o braço direito está ligeiramente recolhido, estando o pulso envolvido por umas cordas cujas pontas pendem para o solo. Poderíamos pensar que este homem é alguém que conseguiu libertar-se das amarras que o prendiam e agora contempla o céu, talvez numa atitude de agradecimento a algum deus ou deuses. Poderíamos ver esta figura como um herói, talvez até um escravo que conseguiu libertar-se. Porém, no lado esquerdo desta fotografia ou pintura existe um vazio. Algo foi cortado da imagem.  Vamos agora colocar o que falta no lado esquerdo da imagem. As tais cordas que pendiam do pulso são bem mais compridas e as suas pontas amarram várias cabeças decepadas que a figura masculina arrastou consigo até ao local! Pois é, agora a interpretação que fazemos da totalidade da imagem é bem diferente da inicial, não é?!  Aquele que parecia ser alguém que conseguiu liberta-se das amarras que o prendiam, um herói, torna-se num monstro. A imagem e a interpretação que dela se fez transfigurou-se com o pedaço que faltava!

São estas omissões que adulteram a História oficial que nos contam  e os exemplos abundam.

 

 

Vasco da Gama, um herói com pés de barro

 

O navegador português Vasco da Gama a quem é atribuído o descobrimento do caminho marítimo para a Índia é um bom exemplo do herói de pés de barro.

Era uma pessoa de muito mau carácter, homem violento, que deixou um rasto de mortandade no extremo oriente onde era considerado um pirata, não olhando a meios para atingir os seus fins, ou os da coroa que então repousava na cabeça de D.Manuel I. Disso mesmo nos dá conta o escritor e ex-jornalista, vencedor de vários prémios, João Morgado no seu livro “Índias”, um romance biográfico sobre Vasco da Gama o herói de pés de barro:

 

“o ex-jornalista de 51 anos descreve Vasco da Gama como um homem cruel, que semeou atrocidades na Índia, e que chocou o reino com os atos lá praticados. Defende que era odiado por muitos – Igreja, nobreza, Ordem da Cruz de Cristo... -, mas foi, contudo, endeusado por Luís de Camões n' "Os Lusíadas" e tornado Capitão-Mor de todas as Armadas pelo Rei D. Manuel I. Essa ligação é um dos aspetos desenvolvidos no livro, além do retrato da personalidade, das relações e ódios de Gama. "Quis mostrar o lado humano de Vasco da Gama", explica João Morgado -, o "herói imperfeito". Que "pilhou barcos, assaltou portos, avassalou povos e sobretudo, matou e torturou imensa gente", conta. "Por que não se fala nestas crueldades? Porque Gama é o grande herói de Portugal – e os heróis são 'perfeitos'". In https://expresso.pt/cultura/2016-05-15-Quem-foi--realmente--Vasco-da-Gama-

No passado, como também no presente, os fins justificavam os meios e assim são criados heróis de pé de barro. 

 

Acrescento mais uma curiosidade a propósito desta personagem descrita como o descobridor do caminho marítimo para a Índia. Segundo uma entrevista a José Tengarrinha que ouvi na rádio há já alguns anos, Vasco da Gama teria feito prisioneiro um piloto árabe e terá sido este a indicar o caminho marítimo para a Índia. Dada a personalidade de Vasco da Gama poderemos facilmente perceber o que aconteceria ao infeliz piloto caso se recusasse a indicar o caminho para a Índia.

 

Mais “lapsos” na História

 

Fernando Pessoa, o grande poeta português criador dos heterónimos, os quais prosaicamente chamados de “fingimentos artísticos” pela nossa intelectualidade e constando isso mesmo no programa de português do ensino oficial, era uma pessoa que se dedicava à Astrologia “de corpo e alma” e por isso mesmo criou os seus heterónimos com base nela, tendo feito para cada heterónimo um minucioso mapa astrológico, onde constava entre outros dados o signo solar de cada um dos heterónimos, tendo por base uma data de nascimento criada pelo poeta. Mas nada disto consta no programa de português, tendo sido liminarmente “apagado” todo este aspecto do poeta, como se nunca tivesses existido. A menos que algum professor por iniciativa própria mencione o facto, os alunos ignoram que a criação dos heterónimos não foi é um mero “fingimento artístico”, mas algo mais baseado numa “crença”, a Astrologia que por não ser  institucionalmente aceite e por não ser cientificamente comprovada a sua validade, é pura e simplesmente ignorada. Mas, pergunto, e as religiões institucionalizadas não são também elas crenças?! E alguma vez se “apagou” da História a crença  nas religiões instituídas de personalidades históricas?! 

 

Para quem esteja interessado em aprofundar o assunto existe um livro editado pela Bertrand: "Cartas Astrológicas de Fernando Pessoa", Paulo Cardoso e Jerónimo Pizarro

Sinopse: “A partir da interpretação das cartas astrológicas de Fernando Pessoa sobre personalidades mundiais, Portugal e dos seus heterónimos, Fernando Pessoa Cartas Astrológicas explica, de modo acessível e rigoroso, como a astrologia se insinua na obra de um dos maiores poetas portugueses.”

 

Francis Newton, o grande astrónomo, matemático, físico, dedicou uma grande parte da sua vida à Alquimia e escreveu sobre o assunto, mas quantos livros mencionam este facto? Poucos, talvez apenas aqueles livros de “cultura” “new age” abertos a este tipo de coisas mas também onde abunda uma informação baseada mais em suposições e crendices do que em factos. Claramente existem os dois extremos que se tocam!

“Ao morrer, a biblioteca de Newton apresentava 169 livros sobre o tópico da alquimia, e acreditava-se que teria consideravelmente mais livros durante os anos de formação em Cambridge, embora possivelmente os tenha vendido antes de mudar-se para Londres em 1696”, in Wikipédia

 

Carl Gustav Jung o criador da Psicologia Analítica também se dedicou ao estudo da Alquimia, embora sob um ponto de vista psico/simbólico, tendo publicado um livro sobre o assunto: Psicologia e Alquimia. Mas quais as faculdades que estudam este autor, homem de profunda cultura e abertura de espírito?!

Livros deste autor editados em Portugal são inexistentes! Apenas existem edições brasileiras, tanto quanto sei.

 

 Texto original de Pimenta


Não perca  a segunda parte deste artigo que terá certamente assuntos interessantes. Fique atento e siga este blog!

 

Visite  também artigo de ficção e humor negro em: 

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Fic%C3%A7%C3%A3o 


 

 

 

 

 

sábado, 22 de maio de 2021


Porque será que algumas crianças parece que já nasceram cansadas?

 

Há algo extraordinariamente esquisito no quotidiano da vida social e  parece que ninguém se dá conta. Crianças com mais de três anos, até com seis e sete anos andam em cadeirinhas de rodas empurradas pelos pais ou até pelos avós!

 

Como é possível que crianças com idade suficiente para andarem a pé, correrem brincarem, estando no auge da sua vitalidade se façam transportar em cadeirinhas de rodas, muitas mal cabendo nelas e consequentemente adquirindo posições anatomicamente prejudiciais?

 

Algo está profundamente errado, ainda para mais se tivermos em conta outro fenómeno que ocorre diariamente nos transportes públicos com estas crianças e seus acompanhantes. É frequente vermos estas criancinhas sentadas nos transportes públicos, enquanto os pais e até os avós vão de pé! Caso sejam os pais a irem de pé para que as criancinhas vão comodamente instaladas e esteja algum idoso por perto, os pais não se dão ao trabalho de cederem o lugar, onde as crianças vão sentadas, a essa pessoa idosa. Porque será?! A conclusão é inevitável: as criancinhas já nasceram cansadas!  E tudo isto se passa perante a indiferença aparvalhada dos restantes passageiros, alguns dos quais debruçados sobre os seus telemóveis que lhes “ suga” a atenção e todos os sentidos. Será que também lhes absorve a inteligência? Um caso para reflectir.

 

Qual a causa deste “fenómeno”, é para mim um enigma indecifrável. No entanto  algumas hipóteses passiveis de explicar tão intrincado fenómeno poderão ser consideradas. Será o ADN destas crianças a “definhar”? Alimentação errada? Mistério! A única evidência que se me apresenta é que as criancinhas já nasceram cansadas, permanecendo um enigma, pelo menos para mim, as causas de tão profundo cansaço.

 

Admirável Mundo Novo! – uma visão do futuro

 

 

No entanto tudo isto me inspira uma visão do futuro, um Admirável Mundo Novo, diverso do de Aldous Huxley, mas igualmente admirável, onde estas crianças, os futuros adultos, passarão a deslocar-se não em cadeiras de rodas mas em camas de rodas electrónicas e comandadas pelo pensamento, ou melhor ainda, em camas anti-gravitacionais! Pois se  no auge da sua vitalidade, na infância, não têm forças para se deslocarem a pé, quando forem adultas com certeza que não terão forças para mexer um dedo, daí que tudo tenha de ser executado pela “força” do pensamento. A posição deitada será a norma dada a incapacidade para mover um dedo que seja. Daí a deslocação em camas de rodas electrónicas, ou anti-gravitacionais, preparadas  e equipadas com tudo o que é necessário para o dia a dia, como a higiene pessoal, confecção de alimentos etc. A cama tornar-se-á num robot, uma inteligência artificial que provirá  todas as necessidades mais imediatas do incapacitado utilizador, fazendo-se a comunicação entre ambos através do pensamento e não das palavras, porque chegando a este ponto, nem falar o indivíduo conseguirá.

 

Quando estes incapacitados atingirem a idade mais avançada, a terceira idade, a cama electrónica transformar-se-á numa urna funerária, onde passarão a fazer-se deslocar e que estará pronta a “receber” os restos mortais do moribundo que de acordo com os seus desejos, poderá ser enterrado ou cremado, sendo tudo isto tratado pela inteligência artificial, o robot, ou seja, a própria cama agora transformada em urna funerária.

 

No final restará apenas a inteligência artificial. Essa sim, terá “pernas para andar” e o mundo será governado por ela. Um Admirável Mundo Novo! 


Texto original de Pimenta  

 

 Veja também;

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sábado, 1 de maio de 2021

 

Porque será que todo o mundo gosta de mandar bitaites?

 

Bitaite – a origem da palavra é desconhecida, mas entrou no nosso vocabulário e veio para ficar. Ela faz parte do nosso dia a dia tendo-se tornado quase numa “instituição”.

 

E o que é um bitaite? É uma forma opinativa, espontânea, sem qualquer fundamento que a sustente. No bitaite não existe o acto reflexivo sobre aquilo que se bitaita  e por isso o bitaite é “atirado” ao “outro” como uma certeza que não merece contestação, transformando-se assim numa forma dogmatizada para aquele que bitaita, o bitaiteiro! O bitaiteiro não pensa, bitaita sob impulso!

 

O bitaite difere da opinião, pois a opinião pode ser fundamentada, baseada em factos, o bitaite não, é sempre o resultado de uma certeza absoluta que não carece de demonstração, é anti-científica. Por tudo isto o bitaite está num nível mais abaixo da opinião. É o equivalente na música à pimbalhada, a “música Pimba”.

 

Notemos as semelhanças entre as palavras pimba e bitaite. O pimba usado como interjeição, substantivo feminino, indica uma ocorrência imprevista, tal como o bitaite que sendo espontâneo é também imprevisível. A música Pimba exprime igualmente um acto espontâneo, tendo a origem da expressão numa música de um cantor popular, Emanuel, cuja letra ...”e nós Pimba” ficou célebre.

 

Outra curiosidade do bitaite é o facto de ser a única forma opinativa que se manda: “mandar um (ou vários) bitaites”. Nunca dizemos mandar uma opinião, ou mandar um conselho, mas sim dar uma opinião ou  dar um conselho. O bitaite manda-se, atira-se à cara de quem se manda, sem dó nem piedade, como uma sentença num tribunal, ou até como uma pedrada que se lança nas fuças da “vítima” sem aviso prévio. Por isso mesmo o bitaite é uma espécie de “arruaceiro” que por vezes tem o condão de criar um certa irritação a quem é mandado: “deixa-te lá de mandar bitaites!”

 

O bitaiteiro, sendo o bom exemplo de um pensamento irreflectido,  tem também algo de narcisista, estando  mais atento aos defeitos dos outros do que aos seus e banalizando o mal que possa acontecer aos outros. Imaginemos alguém que tendo perdido o emprego e a casa, esteja a chorar compulsivamente, apoiando uma das mãos sobre o rosto, o maxilar. O bitaiteiro logo diz: “ Oh pá, aquilo é uma dor de dentes que o gajo tem!” E assim a “sentença” é proferida pelo bitaitero com uma certeza inabalável!

 


“Andam a mexer lá em cima!”

 

Há vários géneros de bitaites e alguns são verdadeiras “obras de arte” de criatividade e originalidade. Um exemplo. Há uns anos atrás, escutava uma conversa num autocarro, onde alguém falava sobre o tempo demasiado quente ou demasiado frio para a época, em resumo sobre as bruscas mudanças climáticas que já então se faziam sentir. Foi então que um bitaiteiro proferiu a sua “sentença” para explicar o fenómeno: “pois é, andam a mexer lá em cima!..” Confesso que semelhante afirmação me deixou perplexa. Mas quem seriam aqueles ou aquelas, na cabeça desta criatura, que andariam a mexer lá em cima? Perguntei-me. Seriam os extraterrestres, os deuses do Olimpo, agentes dos serviços secretos, seres invisíveis?! E de que forma andavam a mexer lá em cima ?! Por artes mágicas, com instrumentos de engenharia desconhecida?! Não lhe perguntei porque não tive coragem para o fazer embora vontade não me tivesse faltado. Outra curiosidade deste criativo bitaiteiro é que a sua afirmação dita deste modo “andam a mexer...” pressupõe que quem o escuta sabe a quem se refere, assim como o “lá em cima”, pois a extensão do “lá em cima” é incomensuravelmente grande, uma vez que tanto pode ser a atmosfera terrestre ou para além dela. Mas o pior de tudo é que estes bitaites, transmitidos como certezas absolutas, são depois espalhados pela população que os engole e posteriormente os “regurgita” para alguém os engolir de novo e... por aí fora.

 

Há também os bitaiteiros compulsivos que não conseguem estar calados mesmo quando deviam e os bitaites maldizentes, muito do agrado dos portugueses. Inventa-se e bitaita-se muito, especialmente sobre quem não se gosta ou de quem se inveja. Mas para consolo de todos nós, parece que este mal não é exclusivo dos portugueses.

 

Um certo indivíduo de uma rádio francesa que supostamente terá vindo a Portugal e digo supostamente uma vez que o teor das suas afirmações relativamente aos portugueses era tão descabido que duvidei da sua vinda, resolveu mandar uns bitaites sobre os portugueses, começando por dizer e cito, que ficou “desagradavelmente decepcionado”, tendo referido em jeito de crítica, que tudo fechava à uma hora da tarde aos fins de semana. Por acaso não se teria dado conta de que estávamos em confinamento?! Afirmou que os portugueses se vestiam como há 12 anos atrás  e que os rapazes punham gel no cabelo com efeito de ‘cimento’, “porque eles são portugueses”, acabando por comparar este tipo de penteado com o de Jonathan Daval, um criminoso francês, referindo ainda outros disparates que não consigo imaginar onde os foi buscar. Ora há aqui uma coisa peculiar. Tendo ele estado numa altura de confinamento como o seu próprio comentário sugere, não andaria quase ninguém nas ruas, então onde é que ele viu todos portugueses com gel na cabeça com efeito de cimento?! O humorista Luís Franco-Bastos respondeu-lhe à letra e com classe, mandando também ele os seus bitaites.

 

Mas os bitaites da criatura tiveram ainda outro aspecto peculiar, é que não foram ditos espontaneamente como regra geral os bitaites são mandados. Todos os seus bitaites foram lidos a partir de uma folha, como se poderá ver no vídeo que está disponível online. Então esteve cá há tão pouco tempo, na altura do confinamento e não tem a memória viva daquilo que viu precisando de um suporte em papel para se lembrar?! Este é um excelente exemplo de bitaites maldizentes que deve ter tido como motivação uma certa “azia” provocada pela final de um certo Campeonato Europeu de Futebol, em França, que os portugueses tiveram a ousadia de ganhar!

 

 

Antídoto anti-bitaite

 

Para quem esteja interessado e sendo um bitaiteiro compulsivo ou impulsivo e se queira livrar desse mal que afecta o cérebro de muita gente, como uma doença infecciosa transmissível, vou fornecer de forma gratuita o antídoto para o mal.

 

1ª Vamos instituir um mandamento Universal: NÃO BITAITARÁS! 


Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia, 10 vezes antes de dormir.

 

2ª Vamos seguir a seguinte regra:

Regra da evidência O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir nos meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.” René Descartes, As Regras do Método, 1º regra do método

Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia 10 vezes antes de dormir.


Texto original de Pimenta

 

 Veja também o próximo artigo onde predomina o humor contundente e a ficção:

    https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Fic%C3%A7%C3%A3o

 

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de abril de 2021


 

Como optimizar a sua liderança

 

Antes de mais vou começar por contar um episódio que foi fundamental para que eu tomasse consciência de que um líder não tem de ser alguém que impõe a sua visão aos outros, sem os escutar, um “líder musculado” e que aquilo a que eu chamo o “líder silensioso” pode ter mais influência sobre os outros do que o musculado, evitando conflitos entre os seus colaboradores.

 

Quando estava a fazer um curso se Formação de Formadores extenso (558h) foi-nos proposto pelo formador um exercício bastante interessante. Em primeiro lugar deveríamos formar grupos de cerca de cinco a quatro pessoas, depois individualmente teríamos de fazer esse exercício que era uma espécie de teste cuja finalidade nós só a soubemos  após a conclusão do mesmo. O teste constava do seguinte:

 

-       um barco estava prestes a naufragar e os naúfragos teriam de levar para o bote salva-vidas um número limitado de utensílios que seriam mais adequados á sua sobrevivência em alto mar e que poderiam ir desde uma boia, linha de pesca, bússola, etc. Cada um de nós, individualmente, escolhia um número de objectos, previamente definido, que achava mais apropriados para a situação e escrevíamos na folha que nos era dada. Após esta primeira etapa do exercício, em conjunto deveríamos decidir a mesma coisa até chegarmos a um consenso, dentro de um limite de tempo previamente acordado. Havia três ou quatro grupos  na sala e um deles era particularmente ruidoso, pois havia duas pessoas, um rapaz e uma rapariga, que eram particularmente assertivos, com personalidades algo impositivas e como tal discutiam muito, puxando cada um para o seu lado e mostrando dificuldades em chegar a um consenso nesta etapa do exercício. Tive a felicidade de estar num grupo que era particularmente tranquilo, onde as pessoas não se “atropelavam”  uma às outras quando expunham as suas ideias, o oposto do que acontecia no referido grupo anterior. Espontaneamente não intervim muito no debate de ideias do grupo mesmo quando não estava a concordar com algumas das propostas, mantendo-me quase sempre calada. Deixei que todos falassem e chegassem a um consenso, só no fim é que calmamente intervim e expus a minhas objeções de uma forma serena e com argumentos lógicos. O grupo concordou com a maioria das minhas objeções e assim modificamos as proposta que inicialmente tinham sido escolhidas pelo grupo. Saliento que a minha intervenção no debate de ideias foi mínima.

 

Após esta última etapa do exercício proposto, foi-nos facultada a solução do teste numa folha onde constavam os objectos que realmente seriam imprescindíveis para a sobrevivência em alto mar. Comparámos com as propostas que tínhamos feito individualmente e assinalámos o número de objectos que tínhamos acertado. Depois verificámos os objectos que em conjunto tínhamos acertado e comparávamos com as escolhas individuais do grupo a que pertencíamos. Isto tinha como finalidade perceber se as nossas escolhas individuais estavam mais próximas ou mais afastadas das do grupo e qual das pessoas teve mais influência em cada grupo, pois o número de escolhas individuais que estivessem mais de  acordo com as escolhas do grupo significava isso mesmo.

 

Eu fui a pessoa que acertou em mais objectos, não só do meu grupo, como de todos os outros, mas também fui a pessoa que mais influência exerceu no grupo a que pertencia, uma vez que os objectos por mim escolhidos eram maioritariamente os mesmos escolhidos pelo conjunto dos membros do meu grupo, mais do que qualquer dos outros participantes. Consequentemente o meu grupo foi aquele que teve um melhor desempenho. Quanto ao grupo mais barulhento e que discutia muito, foi o que menos acertou, quer individualmente quer colectivamente, tendo mostrado por isso mesmo um pior desempenho.

 

 

O Líder silencioso

 

Eu fui um líder silencioso que intervim o menos possível e no entanto tive mais influência sobre as decisões finais do grupo, por várias ordens de factores:

 

1º Deixei  que todos falassem sem cortar a palavra a ninguém mesmo quando não concordava com as opiniões;

 

2ª Não tentei impor as minhas ideias ao grupo e expliquei os meus pontos de vista utilizando uma argumentação lógica, com serenidade e sem exaltações, o que não acontecia com o grupo barulhento que foi o  que teve a pior prestação. Mas também beneficiei do facto de o meu grupo ser formado por pessoas que, como referi anteriormente, era o mais sereno e sabiam escutar-se uma às outras. Estou certa de que se eu estivesse no grupo mais barulhento não teria tanta influência sobre o mesmo!

 

A minha forma de actuar foi espontânea e não premeditada e foi deste modo que aprendi e ganhei consciência de que para obter os melhores resultados de um grupo de trabalho, um ambiente sereno e o respeito dos membros são a base para o sucesso do grupo. Também me tornei mais consciente de uma forma mais eficaz de liderar uma equipa, a qual resumo do seguinte modo:

 

Um bom líder sabe escutar sem cortar a palavra daqueles que expõem as suas ideias, mesmo não concordando com elas. Saber escutar é fundamental seja em que situação for, para que as coisas funcionem da melhor maneira. Infelizmente esta não é a melhor característica da nossa sociedade e os exemplos (maus) vêm da televisão onde parece ter-se tornado norma alguns entrevistadores interromperem constantemente o entrevistado, não dando tempo a que este exponha as suas ideias;

 

Um bom líder não precisa de um ego forte e impositivo e dar nas vistas como um galo de capoeira;

 

Um bom líder sabe tirar o melhor que há nos outros e reúne-se de pessoas que se saibam escutar uma às outras;

 

Um bom líder busca consensos e proporciona um ambiente isento de conflitos;

 

Um bom líder é autoconfiante sem ser arrogante e faz-se respeitar por essa mesma característica;

 

Um bom líder é “silencioso”!

 

Texto original de Pimenta

 

Veja também:

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