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sábado, 1 de maio de 2021

 

Porque será que todo o mundo gosta de mandar bitaites?

 

Bitaite – a origem da palavra é desconhecida, mas entrou no nosso vocabulário e veio para ficar. Ela faz parte do nosso dia a dia tendo-se tornado quase numa “instituição”.

 

E o que é um bitaite? É uma forma opinativa, espontânea, sem qualquer fundamento que a sustente. No bitaite não existe o acto reflexivo sobre aquilo que se bitaita  e por isso o bitaite é “atirado” ao “outro” como uma certeza que não merece contestação, transformando-se assim numa forma dogmatizada para aquele que bitaita, o bitaiteiro! O bitaiteiro não pensa, bitaita sob impulso!

 

O bitaite difere da opinião, pois a opinião pode ser fundamentada, baseada em factos, o bitaite não, é sempre o resultado de uma certeza absoluta que não carece de demonstração, é anti-científica. Por tudo isto o bitaite está num nível mais abaixo da opinião. É o equivalente na música à pimbalhada, a “música Pimba”.

 

Notemos as semelhanças entre as palavras pimba e bitaite. O pimba usado como interjeição, substantivo feminino, indica uma ocorrência imprevista, tal como o bitaite que sendo espontâneo é também imprevisível. A música Pimba exprime igualmente um acto espontâneo, tendo a origem da expressão numa música de um cantor popular, Emanuel, cuja letra ...”e nós Pimba” ficou célebre.

 

Outra curiosidade do bitaite é o facto de ser a única forma opinativa que se manda: “mandar um (ou vários) bitaites”. Nunca dizemos mandar uma opinião, ou mandar um conselho, mas sim dar uma opinião ou  dar um conselho. O bitaite manda-se, atira-se à cara de quem se manda, sem dó nem piedade, como uma sentença num tribunal, ou até como uma pedrada que se lança nas fuças da “vítima” sem aviso prévio. Por isso mesmo o bitaite é uma espécie de “arruaceiro” que por vezes tem o condão de criar um certa irritação a quem é mandado: “deixa-te lá de mandar bitaites!”

 

O bitaiteiro, sendo o bom exemplo de um pensamento irreflectido,  tem também algo de narcisista, estando  mais atento aos defeitos dos outros do que aos seus e banalizando o mal que possa acontecer aos outros. Imaginemos alguém que tendo perdido o emprego e a casa, esteja a chorar compulsivamente, apoiando uma das mãos sobre o rosto, o maxilar. O bitaiteiro logo diz: “ Oh pá, aquilo é uma dor de dentes que o gajo tem!” E assim a “sentença” é proferida pelo bitaitero com uma certeza inabalável!

 


“Andam a mexer lá em cima!”

 

Há vários géneros de bitaites e alguns são verdadeiras “obras de arte” de criatividade e originalidade. Um exemplo. Há uns anos atrás, escutava uma conversa num autocarro, onde alguém falava sobre o tempo demasiado quente ou demasiado frio para a época, em resumo sobre as bruscas mudanças climáticas que já então se faziam sentir. Foi então que um bitaiteiro proferiu a sua “sentença” para explicar o fenómeno: “pois é, andam a mexer lá em cima!..” Confesso que semelhante afirmação me deixou perplexa. Mas quem seriam aqueles ou aquelas, na cabeça desta criatura, que andariam a mexer lá em cima? Perguntei-me. Seriam os extraterrestres, os deuses do Olimpo, agentes dos serviços secretos, seres invisíveis?! E de que forma andavam a mexer lá em cima ?! Por artes mágicas, com instrumentos de engenharia desconhecida?! Não lhe perguntei porque não tive coragem para o fazer embora vontade não me tivesse faltado. Outra curiosidade deste criativo bitaiteiro é que a sua afirmação dita deste modo “andam a mexer...” pressupõe que quem o escuta sabe a quem se refere, assim como o “lá em cima”, pois a extensão do “lá em cima” é incomensuravelmente grande, uma vez que tanto pode ser a atmosfera terrestre ou para além dela. Mas o pior de tudo é que estes bitaites, transmitidos como certezas absolutas, são depois espalhados pela população que os engole e posteriormente os “regurgita” para alguém os engolir de novo e... por aí fora.

 

Há também os bitaiteiros compulsivos que não conseguem estar calados mesmo quando deviam e os bitaites maldizentes, muito do agrado dos portugueses. Inventa-se e bitaita-se muito, especialmente sobre quem não se gosta ou de quem se inveja. Mas para consolo de todos nós, parece que este mal não é exclusivo dos portugueses.

 

Um certo indivíduo de uma rádio francesa que supostamente terá vindo a Portugal e digo supostamente uma vez que o teor das suas afirmações relativamente aos portugueses era tão descabido que duvidei da sua vinda, resolveu mandar uns bitaites sobre os portugueses, começando por dizer e cito, que ficou “desagradavelmente decepcionado”, tendo referido em jeito de crítica, que tudo fechava à uma hora da tarde aos fins de semana. Por acaso não se teria dado conta de que estávamos em confinamento?! Afirmou que os portugueses se vestiam como há 12 anos atrás  e que os rapazes punham gel no cabelo com efeito de ‘cimento’, “porque eles são portugueses”, acabando por comparar este tipo de penteado com o de Jonathan Daval, um criminoso francês, referindo ainda outros disparates que não consigo imaginar onde os foi buscar. Ora há aqui uma coisa peculiar. Tendo ele estado numa altura de confinamento como o seu próprio comentário sugere, não andaria quase ninguém nas ruas, então onde é que ele viu todos portugueses com gel na cabeça com efeito de cimento?! O humorista Luís Franco-Bastos respondeu-lhe à letra e com classe, mandando também ele os seus bitaites.

 

Mas os bitaites da criatura tiveram ainda outro aspecto peculiar, é que não foram ditos espontaneamente como regra geral os bitaites são mandados. Todos os seus bitaites foram lidos a partir de uma folha, como se poderá ver no vídeo que está disponível online. Então esteve cá há tão pouco tempo, na altura do confinamento e não tem a memória viva daquilo que viu precisando de um suporte em papel para se lembrar?! Este é um excelente exemplo de bitaites maldizentes que deve ter tido como motivação uma certa “azia” provocada pela final de um certo Campeonato Europeu de Futebol, em França, que os portugueses tiveram a ousadia de ganhar!

 

 

Antídoto anti-bitaite

 

Para quem esteja interessado e sendo um bitaiteiro compulsivo ou impulsivo e se queira livrar desse mal que afecta o cérebro de muita gente, como uma doença infecciosa transmissível, vou fornecer de forma gratuita o antídoto para o mal.

 

1ª Vamos instituir um mandamento Universal: NÃO BITAITARÁS! 


Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia, 10 vezes antes de dormir.

 

2ª Vamos seguir a seguinte regra:

Regra da evidência O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir nos meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.” René Descartes, As Regras do Método, 1º regra do método

Modo de usar (posologia): recitar 10 vezes de manhã antes de se levantar, 10 vezes a meio do dia 10 vezes antes de dormir.


Texto original de Pimenta

 

 Veja também o próximo artigo onde predomina o humor contundente e a ficção:

    https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Fic%C3%A7%C3%A3o

 

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de abril de 2021


 

Como optimizar a sua liderança

 

Antes de mais vou começar por contar um episódio que foi fundamental para que eu tomasse consciência de que um líder não tem de ser alguém que impõe a sua visão aos outros, sem os escutar, um “líder musculado” e que aquilo a que eu chamo o “líder silensioso” pode ter mais influência sobre os outros do que o musculado, evitando conflitos entre os seus colaboradores.

 

Quando estava a fazer um curso se Formação de Formadores extenso (558h) foi-nos proposto pelo formador um exercício bastante interessante. Em primeiro lugar deveríamos formar grupos de cerca de cinco a quatro pessoas, depois individualmente teríamos de fazer esse exercício que era uma espécie de teste cuja finalidade nós só a soubemos  após a conclusão do mesmo. O teste constava do seguinte:

 

-       um barco estava prestes a naufragar e os naúfragos teriam de levar para o bote salva-vidas um número limitado de utensílios que seriam mais adequados á sua sobrevivência em alto mar e que poderiam ir desde uma boia, linha de pesca, bússola, etc. Cada um de nós, individualmente, escolhia um número de objectos, previamente definido, que achava mais apropriados para a situação e escrevíamos na folha que nos era dada. Após esta primeira etapa do exercício, em conjunto deveríamos decidir a mesma coisa até chegarmos a um consenso, dentro de um limite de tempo previamente acordado. Havia três ou quatro grupos  na sala e um deles era particularmente ruidoso, pois havia duas pessoas, um rapaz e uma rapariga, que eram particularmente assertivos, com personalidades algo impositivas e como tal discutiam muito, puxando cada um para o seu lado e mostrando dificuldades em chegar a um consenso nesta etapa do exercício. Tive a felicidade de estar num grupo que era particularmente tranquilo, onde as pessoas não se “atropelavam”  uma às outras quando expunham as suas ideias, o oposto do que acontecia no referido grupo anterior. Espontaneamente não intervim muito no debate de ideias do grupo mesmo quando não estava a concordar com algumas das propostas, mantendo-me quase sempre calada. Deixei que todos falassem e chegassem a um consenso, só no fim é que calmamente intervim e expus a minhas objeções de uma forma serena e com argumentos lógicos. O grupo concordou com a maioria das minhas objeções e assim modificamos as proposta que inicialmente tinham sido escolhidas pelo grupo. Saliento que a minha intervenção no debate de ideias foi mínima.

 

Após esta última etapa do exercício proposto, foi-nos facultada a solução do teste numa folha onde constavam os objectos que realmente seriam imprescindíveis para a sobrevivência em alto mar. Comparámos com as propostas que tínhamos feito individualmente e assinalámos o número de objectos que tínhamos acertado. Depois verificámos os objectos que em conjunto tínhamos acertado e comparávamos com as escolhas individuais do grupo a que pertencíamos. Isto tinha como finalidade perceber se as nossas escolhas individuais estavam mais próximas ou mais afastadas das do grupo e qual das pessoas teve mais influência em cada grupo, pois o número de escolhas individuais que estivessem mais de  acordo com as escolhas do grupo significava isso mesmo.

 

Eu fui a pessoa que acertou em mais objectos, não só do meu grupo, como de todos os outros, mas também fui a pessoa que mais influência exerceu no grupo a que pertencia, uma vez que os objectos por mim escolhidos eram maioritariamente os mesmos escolhidos pelo conjunto dos membros do meu grupo, mais do que qualquer dos outros participantes. Consequentemente o meu grupo foi aquele que teve um melhor desempenho. Quanto ao grupo mais barulhento e que discutia muito, foi o que menos acertou, quer individualmente quer colectivamente, tendo mostrado por isso mesmo um pior desempenho.

 

 

O Líder silencioso

 

Eu fui um líder silencioso que intervim o menos possível e no entanto tive mais influência sobre as decisões finais do grupo, por várias ordens de factores:

 

1º Deixei  que todos falassem sem cortar a palavra a ninguém mesmo quando não concordava com as opiniões;

 

2ª Não tentei impor as minhas ideias ao grupo e expliquei os meus pontos de vista utilizando uma argumentação lógica, com serenidade e sem exaltações, o que não acontecia com o grupo barulhento que foi o  que teve a pior prestação. Mas também beneficiei do facto de o meu grupo ser formado por pessoas que, como referi anteriormente, era o mais sereno e sabiam escutar-se uma às outras. Estou certa de que se eu estivesse no grupo mais barulhento não teria tanta influência sobre o mesmo!

 

A minha forma de actuar foi espontânea e não premeditada e foi deste modo que aprendi e ganhei consciência de que para obter os melhores resultados de um grupo de trabalho, um ambiente sereno e o respeito dos membros são a base para o sucesso do grupo. Também me tornei mais consciente de uma forma mais eficaz de liderar uma equipa, a qual resumo do seguinte modo:

 

Um bom líder sabe escutar sem cortar a palavra daqueles que expõem as suas ideias, mesmo não concordando com elas. Saber escutar é fundamental seja em que situação for, para que as coisas funcionem da melhor maneira. Infelizmente esta não é a melhor característica da nossa sociedade e os exemplos (maus) vêm da televisão onde parece ter-se tornado norma alguns entrevistadores interromperem constantemente o entrevistado, não dando tempo a que este exponha as suas ideias;

 

Um bom líder não precisa de um ego forte e impositivo e dar nas vistas como um galo de capoeira;

 

Um bom líder sabe tirar o melhor que há nos outros e reúne-se de pessoas que se saibam escutar uma às outras;

 

Um bom líder busca consensos e proporciona um ambiente isento de conflitos;

 

Um bom líder é autoconfiante sem ser arrogante e faz-se respeitar por essa mesma característica;

 

Um bom líder é “silencioso”!

 

Texto original de Pimenta

 

Veja também:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Educa%C3%A7%C3%A3o 

 

 

 

sábado, 10 de abril de 2021




A educação é a base da nossa sociedade. Se  queres transformar a sociedade, começa pela educação!

 


Projecto Transversal - Competências Horizontais.

 

Este foi um projecto que realizei no âmbito de um curso de Formação de Formadores de  558h, na Associação Industrial Portuense.

Este projecto culminou com a criação de um módulo destinado a  ser inserido nos cursos de Formação Jovem da Associação Industrial Portuense. O objectivo era criar um modelo que fosse transversal a todas as disciplinas técnicas, ou especializadas, destinado  ao desenvolvimento da criatividade, por um lado e por outro visava o desenvolvimento de  competências interpessoais.



Outros aspectos essenciais foram levados em linha de conta neste projecto:

1. Colmatar uma lacuna que se tem vindo a fazer sentir no ensino em geral, essencialmente vocacionado para uma aprendizagem do tipo “copy and past” onde mal se vislumbra estímulos para a elaboração de um pensamento crítico, construtivo e bem organizado, mas também que prima pela ausência de estímulos criativos e de “pensar fora da caixa”, aquilo que Edward de Bono chamava “O pensamento Lateral” ou seja “os processos mentais da criatividade, engenho e perspicácia na elaboração dos nossos pensamentos para poder observar como a realidade é vista desde ângulos diferentes e poder reestruturar e mudar as ideias previamente aprendidas.”

 

2. Desenvolver potencialidades do “cérebro total”, não só o hemisfério esquerdo, que predomina na nossa sociedade, mas também o hemisfério direito, fonte da criação, inovação e da criatividade.

Para tal recorrer-se-ia a uma pedagogia  que fizesse apelo ao “cérebro total” utilizando interactivamente quatro possibilidades fundamentais:

 

Pedagogia racional – à base de conhecimentos, factos números e recurso à linguagem;

Pedagogia organizada – seguindo um plano e método, organizada e com procedimentos precisos;

Pedagogia visual – intuitiva, da descoberta, essencialmente não verbal;

Pedagogia relacional – emotiva, expressiva do vivido no grupo

 

Como referi, os conteúdos do programa do módulo que criei na altura, estavam destinados à Formação Profissional, mas a ideia original é transversal a todas as áreas e idades, por isso é que se chama transversal.

 

Um dos exercícios que utilizei na altura, criado por de Edward de Bono, foi

                    “ Os 6 chapéus para pensar” cujos objectivos são:

dissociar emoção e lógica, criatividade e informação, reforçar a intenção de pensar.

 

Cada chapéu representa uma forma de pensar. Por exemplo, o chapéu branco está relacionado com factos objectivos, dados, números; o chapéu vermelho trata exclusivamente das emoções e sentimentos (a linguagem das emoções), o azul organiza os vários aspectos do pensamento, como por exemplo, a avaliação das prioridades ou enumeração das exigências, e assim por adiante.

O exercício funciona do seguinte modo: é proposto aos participantes um tema sobre o qual se devem pronunciar usando um chapéu à sua escolha, de acordo com o modo como gostariam de apresentar o seu discurso ou opinião. O tema é debatido fazendo-se uso dos referidos chapéus.

 

  

Este exercício também pode ser adaptado para crianças em idade escolar, pois tem características lúdicas e pode ser  realizado como um jogo, servindo como um Organizador de Pensamentos:

- aprender a distinguir factos de meras opiniões;

- fundamentar as suas opiniões com base em factos;

- saber distinguir reacções emotivas de pensamentos lógicos e  fundamentados;

- perceber a diferença entre pensamento intuitivo e pensamento lógico,

etc.

 

Nota final

Na altura em que este projecto foi apresentado e posteriormente posto em prática, não teve o acolhimento que seria desejável, apesar da experiência ter corrido muito bem, isto porque os tempos eram outros (princípios dos anos 90) e também porque as pessoas, de um modo geral, são quase sempre avessas a ideias que saiam fora do circuito normal de funcionamento daquilo que está instituído.

 

Esta atitude de “bloqueio” a ideias inovadoras que possam vir a inaugurar um novo paradigma, é transversal a todas as áreas do conhecimento, seja científico, artístico ou educacional. É preciso deixar passar alguns anos para que uma nova geração apareça e se abra a novas ideias.

 

 Penso que hoje em dia há mais abertura para implementar este projecto, apesar das dificuldades que todos estamos a atravessar nesta altura de crise.

 

 Texto originaL de Pimenta

Caso alguém esteja interessado neste projecto e queira implementá-lo poderá contactar-me através do email indicado no cimo da página. 


Veja também o artigo sobre Feng Shui hortícula:

https://blogdapimenta11.blogspot.com/search/label/Feng%20Shui